Teve um tempo em que as belezas de Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, eram conhecidas apenas por aqueles que para lá iam retirar seu ouro. Na corrida pelo minério, a região chegou a ter 5 mil habitantes. Neste domingo (8), o Receita de Família traz um prato que rememora essa época. Foi nos primórdios do colonialismo, quando os viajantes precisavam reinventar pratos que atendessem a necessidade de se alimentar, de forma rápida e prática, que surgiu o feijão tropeiro.
A combinação de feijão com farinha de mandioca, linguiça, ovos, torresmo, couve e temperos, fez tanto sucesso que se tornou um prato típico da culinária nacional. Para além de Minas, o feijão tropeiro também é tradicional nos estados de Goiás e São Paulo.
Na vila de Ibitipoca, quem não comeu o famoso feijão tropeiro da Marta é porque ainda não é turista assíduo. O restaurante é parada obrigatória para quem desce do Parque Estadual. Depois de passar o dia inteiro nas trilhas e cachoeiras, o cheiro da comida servida no fogão a lenha é hipnotizante.
O restaurante fica no centro de Ibitipoca. É preciso subir uma rampa para chegar ao segundo andar do estabelecimento, onde o almoço é acompanhado de uma uma visão privilegiada do movimento da vila. Nos sábados, fica aberto até às 21h, com a opção de jantar, e nos demais dias, até às 18h.
Mais de uma década de fogão a lenha
Marta Aparecida de Paula abriu o restaurante há 12 anos. Ela e duas irmãs mudaram-se para Ibitipoca e foram trabalhar em pousadas. Depois de juntar algum dinheiro, cada uma investiu em um empreendimento. A escolha de Marta foi o restaurante, devido à paixão pela cozinha e habilidade que já tinha adquirido no trabalho com hospedagem. “Aprendi a fazer o feijão tropeiro com minha ex-patroa e, hoje, é o prato que mais sai. Chega a sair 3 quilos de tropeiro no dia.”
Ela conta que turistas de toda parte do país já visitaram seu estabelecimento, e é certo que todos eles provam o prato, servido em uma panela de barro sempre cheia. “O restaurante dá bastante movimento, principalmente nos finais de semana. Chegam a passar 300 pessoas por aqui.”
O diferencial, segundo ela, vai além do tempero mineiro: a hospitalidade e a fatura, ensinamentos que aprendeu com a família desde nova. “Eu deixo os clientes bem à vontade. Pode repetir quantas vezes quiser, faço bastante comida mesmo. É para comer sem cerimônia, sempre gostei disso. Coisa do povo da roça, né?”
Para acompanhar o feijão, opções não faltam. Carnes, legumes e verduras têm de sobra, e boa parte vem de produtores locais. A couve que Marta usa para cozinhar o feijão tropeiro é cultivada por um agricultor local, fornecedor há 12 anos. Tradição e receptividade, para Marta, dão cara ao restaurante, que segue encantando turistas com o gostinho típico de Minas e o cenário das belezas locais.
Confira a receita:
Ingredientes
½ kg de feijão vermelho cozido “ao dente”
1 xícara de gordura de porco, ou banha, se preferir
1 gomo de calabresa
1 pedaço de bacon
Couve picada
4 ovos
400 gramas de farofa pronta ou farinha de mandioca
Modo de fazer
Coloque a panela para aquecer com a gordura. Assim que estiver derretida, adicione o bacon e a calabresa. Deixar dourar e, quando estiver bem frito, coloque os ovos e mexa um pouco, não muito. Adicione a couve em cima dos ovos e coloque uma pitada de sal. Acrescentar o feijão e misturar tudo. Desligue o fogo e, por fim, adicione a farinha de mandioca e está pronto seu feijão tropeiro.