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Projeto da UFJF mapeia mais de 30 sítios arqueológicos de cerca de 600 anos na Zona da Mata

Museu de Arquiologia Biosfera Felipe Couri
Museu de Arquiologia Biosfera Felipe Couri 1
Diretora do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da UFJF, Luciane Monteiro, fala sobre a importância dos sítios para o patrimônio e o conhecimento. (Foto: Felipe Couri)
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Muito antes de ruas, viadutos, construções arquitetônicas e outras características urbanas que conhecemos hoje existirem, já havia diversas histórias sendo criadas na região. Desde os anos 2000, pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) trabalham para descobrir lugares que guardam um passado que pode ajudar a entender o presente. Nessa busca, foi possível mapear, até o momento, mais de 30 sítios arqueológicos, de cerca de 600 anos, na Zona da Mata mineira. Por meio de artefatos como cerâmicas, machadinhas, tigelas ou marcas do tempo e manchas, os arqueólogos conseguiram entender um pouco mais sobre o modo de vida das pessoas que moravam por aqui. 

A diretora do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da UFJF, Luciane Monteiro, deu início ao Projeto de Mapeamento Arqueológico e Cultural da Zona da Mata, junto com a professora Ana Paula Oliveira, pois na época o conhecimento científico sobre os sítios da região era inexistente. Um convite de parceria foi enviado aos municípios e ações de educação patrimonial para apresentar a proposta do projeto para a sociedade foram realizadas. De acordo com Luciane, a maioria dos locais são descobertos por meio da participação da população local, que encontra tigelas, machadinhas, lança e outros objetos nas suas terras. Só depois desse diálogo é que as intervenções começam. 

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Um sítio arqueológico é um local, debaixo da terra, onde são encontradas evidências materiais ou não de ocupação humana, no caso do estudo da UFJF, trata-se, especificamente, de populações indígenas. Por causa de ações antrópicas, como agricultura ou algum tipo de construção, os vestígios tendem a aparecer na superfície e despertar a curiosidade dos moradores. Se a população encontrar algum desses artefatos, a orientação é para não retirar o material do local para não modificar ou destruir o contexto e acionar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ou, se for na região, a equipe do Museu de Arqueologia da UFJF (pelo instagram ou pelo telefone (32) 2102-6380), que utilizará métodos e técnicas apropriados para fazer as devidas análises. 

“A nossa primeira fase é conversar com a população, o que chamamos de abordagem etnográfica. Nós buscamos não só informações sobre os vestígios, mas também detalhes da história de vida daquelas pessoas, se eles estão naquelas terras há muito tempo, como chegaram ali, a relação com a terra, etc, buscando compreender o processo de ocupação daquela localidade”, diz Luciane.  

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O projeto resultou em diversos estudos. Um deles, desenvolvido pelo pesquisador Leandro Mageste durante o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), chama atenção por apontar relações entre os sítios arqueológicos da Zona da Mata e os sítios do litoral do Rio de Janeiro, em específico, os localizados no Complexo Lagunar de Araruama. O principal material encontrado foi cerâmica. “É um tipo de cerâmica diferente das do interior do país”, compara. A partir de similaridades do tipo de vestígio e da cronologia, foi possível perceber a existência de conexões entre grupos locais Tupinambá situados no litoral e no interior, que transitavam por essas duas regiões. 

“A datação de boa parte desses artefatos é de, aproximadamente, 600 anos antes do presente, no período pré-colonial. Então, antes da chegada dos colonizadores já existia uma população com uma riqueza muito grande na produção material, por meio desses artefatos. As cerâmicas, por exemplo, são pintadas e possuem uma decoração plástica muito sofisticada, e isso diz muito sobre o modo de vida dessas populações”, explica a pesquisadora. 

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Pesquisadores descobriram dois sítios arqueológicos em Juiz de Fora 

Do total de sítios encontrados, os pesquisadores escavaram e investigaram seis, sendo dois em Juiz de Fora, um em Carangola – o mais antigo, e outros em São João Nepomuceno, Guarani e Rio Novo. Os sítios arqueológicos de Juiz de Fora ficam localizados na Zona Rural, no distrito de Valadares, e são divididos pela rodovia: um recebeu o nome de Emílio Barão e o outro de Teixeiras Lopes. 

O primeiro fica nos arredores do Pico Cabeça de Formiga. Em setembro, a Tribuna esteve no local e conversou com Wagner Canabrava,  responsável pela propriedade, que pertence à sua família desde 1814. Antes de se tornar um ponto turístico, Wagner conta que o pico era tido como um monumento místico para os povos originários que viviam naquela região. Certo dia, ele encontrou uma tigela e, a partir de então, pesquisadores descobriram um sítio arqueológico, de 600 anos nas terras da família Paiva. 

Pesquisadores da UFJF trabalham no mapeamento dos sítios arqueológicos (Foto: Arquivo Pessoal)

Preservar e conscientizar 

Mesmo após 24 anos de trabalho, Luciane observa que, ainda hoje, há uma certa resistência por uma parcela da população em permitir pesquisas nas suas terras. A arqueóloga explica que, independente da propriedade ser de uma determinada família, tudo encontrado debaixo do solo pertence à União e deve ser notificado aos órgãos competentes. Por isso, ela reforça a importância do trabalho de conscientização para que a população entenda que ter um sítio arqueológico na sua terra não faz com que ela corra o risco de ser desapropriada ou ficar inválida para uso. “É fundamental entender a importância do sítio para o patrimônio, para o conhecimento, para a compreensão dos nossos ancestrais.” 

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Os trabalhos desenvolvidos até o momento já colaboraram para um maior entendimento sobre a relação que os indígenas que aqui viviam mantinham com a terra. Luciane comenta que a interdependência deles com a natureza evidenciava ações de respeito e cuidado. A análise de sítios arqueológicos também proporciona a compreensão de como as sociedades antigas interagiam com o meio ambiente, permitindo a identificação de padrões de uso sustentável ou degradação, que podem ser usados para tomar decisões hoje, com o objetivo de conservar os recursos naturais e culturais.

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