Das 4.950 espécies de árvores encontradas na Mata Atlântica, 65% estão ameaçadas de extinção, aponta um estudo publicado na Science – uma das revistas científicas mais importantes do mundo, em janeiro deste ano. Entre elas estão o pau-brasil, araucária, jequitibá-rosa e a palmito-juçara. Esta, conhecida por produzir o juçaí, um tipo de açaí preparado a partir da polpa, pode ser encontrada no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A palmito-juçara (Euterpe edulis) é nativa da floresta Atlântica do Sul da Bahia e Minas Gerais, mas também pode ser encontrada no Rio Grande do Sul e nas matas ciliares da Bacia do Rio Paraná. É uma planta cultivada principalmente com fins ornamentais, já que seus frutos são globosos e de cor negro-violácea. Em algumas regiões do Brasil é chamada de içara, palmito-doce, palmiteiro, ensarova e ripeira, por exemplo.
O diretor do Jardim Botânico, Breno Motta, diz que o espaço representa um importante refúgio para a espécie. “Dentro do mosaico de florestas secundárias no Jardim Botâncio da UFJF, populações de Euterpe edulis são frequentes em solos mais úmidos, sendo esta espécie característica de áreas mais avançadas em termos de sucessão.”
Segundo o diretor, foram registrados cerca de 800 pés de palmeira-juçara por hectare na área do Jardim Botânico com maior teor de umidade. Com isso, estima-se que a área total da Mata do Krambeck pode chegar a abrigar mais de 100 mil árvores da espécie. “É um número bastante expressivo, principalmente em se tratando de uma floresta urbana”, comenta o biólogo.
Palmito-juçara e a importância para outras espécies
A palmeira-juçara pode chegar a mais de 15 metros de altura. Toda essa exuberância se converte em uma grande fonte de alimentos para os animais. Muitos a chamam de “mãe da floresta” ou “arroz e feijão da floresta” justamente pela palmeira ser fonte de nutrientes para diversas espécies da Mata Atlântica. Mais de 60 espécies de aves e mais de 20 de mamíferos se alimentam do seu fruto e, em troca, trabalham como dispersores de suas sementes. Isso faz com que a taxa de germinação das sementes de juçara despolpadas seja muito maior que as sementes dentro dos frutos não consumidos.
Um caso interessante é o da ave araponga, que migra pela Mata Atlântica conforme se dá a maturação dos frutos da palmeira – que acontece em diferentes momentos nas regiões onde habitam. Além desses animais, as abelhas, borboletas e outros insetos são polinizadores de suas flores. “A espécie contribui com a sucessão ecológica, na medida em que os polinizadores e dispersores de frutos e sementes passam a colonizar a área, e assim contribuir com o fluxo gênico de outras espécies.”
Apesar da possibilidade do manejo sustentável, a espécie se encontra extinta em várias áreas de ocorrência natural, em razão da exploração predatória. “Essa espécie sofre exploração predatória constante para a extração de palmito, e está incluída na lista da flora ameaçada de extinção de Minas Gerais e na lista de espécies da flora brasileira ameaçada de extinção. Por ser um importante produto florestal não madeireiro, a palmeira juçara pode ser um meio de se alcançar desenvolvimento econômico e social e termos a conservação dos ecossistemas e suas espécies, pois, se manejada de forma adequada, pode valorizar economicamente e socialmente a manutenção das florestas, sendo mais vantajoso mantê-las do que derrubá-las”, explica Breno.