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Magda Trece: ‘A literatura, antes de qualquer função, precisa encantar’

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Criadora da simpática Vó Filó, Magda Trece aborda diversidade, inclusão e aceitação em “Fia Sofia, fia do seu jeitinho”, cujo lançamento ocorrerá em Juiz de Fora e em Mar de Espanha (Foto: Divulgação)
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Sempre que penso na Vó Filó, a simpática caçadora de maravilhas, vejo muito da Magda Trece nela. E a autora confessou que idealizou a Filomena para que, se um dia tiver netos, que eles tenham uma memória alegre de sua avó. “Ela sou eu. Atrapalhada, sorridente e com várias limitações. Imaginei a Mary Poppins (por isso a sombrinha), mas, quando me deparei com a cintura dela, percebi que não era essa perfeição de corpo que me interessava. Queria a leveza dela plainando no ar, mas com características reais. Por isso misturei com a Bruxa Onilda e nasceu Vó Filó”, conta Magda, que, em novo projeto, revisita uma aranha já apresentada aos leitores, em “Doli em o dia das formigas.”

Mais uma vez, criadora e criatura se confundem. Sofia adora mudar a cor do mundo. “Assim como eu, que busco colorir a vida das minhas crianças com magia e encantamento. Sempre vou tentar arrancar um sorriso Monalisa de um leitor”, comenta. “Fia Sofia, fia do seu jeitinho” (Trece Edições), projeto desenvolvido com apoio da Lei Paulo Gustavo, será lançado na Biblioteca Municipal de Mar de Espanha, no dia 23 de agosto, às 13h. Já no dia 3 de setembro, o lançamento ocorrerá no Teatro Paschoal Carlos Magno, em Juiz de Fora, a partir das 19h. É claro que serão dois dias de muita contação de histórias.

E o que a Sofia tem de tão especial a ponto de retornar como protagonista de um livro? “Eu já havia me apaixonado pelo sorriso da Sofia (culpa da maravilhosa ilustradora Monise Pedrosa) e pela sua disponibilidade imediata em ajudar a abelha Zum Zum, características de pessoas e personagens especiais. Isso sem falar nas cores que ela carrega, na touca, nas costas e nas meias. Só alguém muito alegre e bem resolvido é capaz de se ‘vestir de cor’. E trazê-la de volta é porque o mundo precisa de Sofias.”

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Magda Trece é autora de 13 livros voltados para crianças, entre os quais estão os títulos da coleção “Vó Filó”: “Vó Filó: a caçadora de maravilhas”, “Cadê o banho que estava aqui?”, “A esperança de vó Filó” e “O varal de memórias de vó Filó.”

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Como foi o processo criativo para reintroduzir a Sofia em “Fia Sofia, fia do seu jeitinho?” Quais elementos você quis destacar na nova aventura vivida por ela?                                                                                                                                                               O processo criativo para o livro da Sofia aconteceu junto com o livro “Doli em o Dia das formigas.” Mas como o livro da Doli já estava pronto, precisei “acalmar a Sofia”, para que ela viesse em seguida. Tudo começou com a escolha do nome da aranha do livro da Doli. Eu pedi a algumas amigas sugestões de nomes e uma delas me contou a seguinte história: havia uma teia de aranha na sua casa e ela não tinha coragem de “varrer a teia”, pois lá era o lar da aranha (já me apaixonei por essa fala) . Um certo dia, ou melhor, no dia certo, outra amiga chegou e batizou a aranha de Sofia, pois na imaginação dela, Sofia só fia com fios coloridos. Ou seja, Sofia já havia feito história no coração dessas amigas e foi nesse momento que a história explodiu dentro de mim. E as cores de Sofia derramaram no teclado enquanto eu digitava. Os elementos que mais desejei destacar foram: o sorriso de Sofia, sua alegria, sua vontade de abraçar, de acolher e sua resiliência ao ser rejeitada. A cena dela (muito bem retratada por Monise), ao abraçar a aranha rabugenta, é uma das que mais gosto.

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E há autores que se apegam tanto aos seus personagens que têm dificuldade de se despedirem deles. Como é a sua relação com os personagens que cria?
Maternidade pura. impossível abandoná-los. Ainda pretendo escolher alguns personagens do livro “Cadê o banho que estava aqui” para trazê-los ao protagonismo, pois eles são poderosos e cativantes. Eu comecei a me interessar pelos personagens secundários, ao assistir um curso de Escrita Criativa com Renato Modesto, onde ele dizia para criarmos características únicas para os secundários, para eles brilharem nas histórias. A partir daí, descortinei meu olhar para eles.

O livro aborda temas importantes, como diversidade, inclusão e aceitação. Como esses temas se refletem na história e na interação da Sofia com outros personagens?
Foi tão natural entrar nesses temas, que só percebi que havia abordado algo tão forte, quando fui fazer a sinopse dele. Mudar incomoda muito, pois requer sair de uma área de conforto, e as aranhas estavam bem confortáveis na Casa número 7 da Rua do Elástico. Incluir a Sofia, com suas cores vibrantes, não estava nos planos delas. E seria justo a Sofia ter que mudar só para ser aceita pelo grupo? E mais uma vez o papel da ilustradora foi fundamental, pois não precisei escrever sobre a diversidade nas características das aranhas, as ilustrações fizeram lindamente esse papel.

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Com 16 anos de experiência em eventos culturais e educativos, de que forma você enxerga a evolução do papel da literatura infantil na formação de valores e comportamentos nas crianças?
Apesar de algumas avaliações distorcidas, acredito que a literatura tem evoluído nesse papel e acho fantástico que valores e comportamentos sejam inseridos através de uma atividade tão prazerosa e lúdica como a literatura. Para mim, a literatura, antes de qualquer função, precisa encantar. Segundo Abramovich (1997), quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar, de forma mais clara, os sentimentos que têm em relação ao mundo. O papel da literatura é instigar, explorar, arrancar suspiros, gargalhadas e lágrimas. Eu recebo muitas fotos de crianças que adotaram árvores a partir do livro “A Caçadora de Maravilhas.” Essas crianças, com certeza, vão crescer respeitando a natureza. Saber que a Vó Filó ajudou na formação dos valores e comportamento dessas crianças é a certeza de que estou no caminho certo.

Em uma das entrevistas para a coluna Sala de Leitura, você mencionou que, para tornar a leitura um hábito espontâneo e duradouro, as escolas, como ambientes favoráveis, devem incentivar e cultivar esse hábito saudável. Considerando os desafios que muitas vezes surgem nesse processo, quais estratégias você recomendaria para que as escolas consigam efetivamente estimular e fortalecer o hábito da leitura entre as crianças?
Eu acredito que projetos literários bem elaborados e mediadores apaixonados, são estratégias que funcionam e seduzem. Quando eu trabalhava em uma biblioteca escolar, percebi que uma coleção fantástica nunca havia sido tocada e aquilo me incomodou muito. Resolvi pegar um desses livros, convidei o grupo de teatro da escola e lá na biblioteca eles encenaram o “Homem do saco,” da coleção Meus Monstros. No final da apresentação, eu mostrei para eles toda a coleção que estava disponível na prateleira. Resultado: durante mais de seis meses, esses livros ficaram em lista de espera e longe das prateleiras, e isso só me fez criar vários outros projetos para atraí-los.

Capa do livro (Foto: Divulgação)

Conheço seu trabalho desde “Vó Filó: a caçadora de maravilhas”. Depois, vieram outros três livros da série, finalizando com “o varal de memórias de vó Filó.” Já estou com saudades da Filomena. Ela ainda tem mais maravilhas a descobrir e compartilhar?
A Vó Filó sempre será meu divisor de águas, mas estamos vivendo um grande impasse: a queridíssima Monise deu uma pausa nas ilustrações (por um motivo justo e lindo) e eu estou procurando outro ilustrador para continuar com a coleção, pois as escolas já estão me cobrando o retorno da Vó Filó. Só que a nossa Caçadora de Maravilhas já é uma “marca” que não permite modificações. Ela faz parte da memória de muitas crianças e descaracterizá-la com outra ilustração não me agrada. Então, no momento, estou à procura de um ilustrador que tenha os traços da Monise para poder continuar com a coleção. Mas desistir da Vó Filó não passa pela minha cabeça, nem que para isso ela tenha que vir diferente.

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Por falar na vó Filó, vejo muito de você nela. Assim como vejo você na Sofia. As duas espalham maravilhas. Sua literatura e seus personagens são criados a partir de sua experiência de vida? Como suas vivências pessoais influenciam na criação dessas figuras tão cativantes?
Eu criei a Vó Filó para que, se um dia eu tiver netos, eles tenham uma memória alegre de sua avó. Ela sou eu. Atrapalhada, sorridente e com várias limitações. Ao construir sua identidade visual, imaginei a Mary Poppins (por isso a sombrinha), mas, quando me deparei com a cintura dela, percebi que não era essa perfeição de corpo que me interessava. Queria a leveza dela plainando no ar, mas com características reais. Por isso misturei com a Bruxa Onilda e nasceu Vó Filó. E agora chega Sofia, que adora mudar a cor do mundo, assim como eu, que busco colorir a vida das minhas crianças com magia e encantamento. Eu sempre vou tentar arrancar um sorriso Monalisa de um leitor.

Qual a importância da Lei Paulo Gustavo para a realização e distribuição de “Fia Sofia, fia do seu jeitinho”? Como você vê o impacto dessa lei no setor cultural?
Diante do aumento dos valores que compõem a fabricação de um livro e a necessidade de repassar o mínimo desses aumentos, para as escolas e para os leitores, a Lei Paulo Gustavo Estadual, responsável pela realização da Sofia, é um “respiro” para nós, autores independentes. Eu sempre disse e repito: sou extremamente grata pela oportunidade de continuar tocando corações através desses incentivos.

E qual é o caminho que o livro vai percorrer a partir de agora?                                                                                                             

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Sofia, que estava ansiosa para chegar, já está fazendo barulho entre as escolas e Secretarias de Educação. Antes mesmo de ser lançada, ela já prendeu em sua teia parceiros que acreditam na força da literatura e a eles eu me curvo e agradeço. Ao anunciar Sofia nas redes sociais, imaginei adoções para o próximo ano, mas ela não está disposta a ficar dormindo na teia e antecipou sua estreia. Viva Sofia! Viva a Lei Paulo Gustavo Estadual! Viva Marisa Loures, que é como Sofia, acolhedora e sorridente!

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