Embora o nome possa causar estranhamento, o transplante de fezes é um recurso terapêutico eficaz no tratamento de infecções intestinais provocadas pela bactéria Clostridium difficile. Essa bactéria pode desencadear episódios frequentes de diarreia e, em situações mais graves, originar uma inflamação intensa no intestino chamada colite pseudomembranosa.
A doença costuma atingir principalmente pessoas que passaram por tratamentos prolongados com antibióticos, o que compromete o equilíbrio da flora intestinal e facilita a multiplicação do microrganismo. Quando os antibióticos deixam de ser eficazes, o transplante de fezes surge como uma alternativa segura e promissora.
Transplante de fezes
O transplante fecal envolve a introdução de bactérias benéficas, extraídas das fezes de um doador saudável, no intestino do paciente, com a finalidade de reequilibrar a microbiota intestinal. Antes da aplicação, o material é processado para remover resíduos e conservar apenas os microrganismos funcionais.
A amostra pode ser utilizada na forma líquida — mantida em temperaturas de até -80 °C — ou desidratada e convertida em pó. A aplicação costuma ser feita por meio de colonoscopia, endoscopia, sonda nasogástrica ou clister retal, em um procedimento breve, realizado sob sedação e sem causar dor.
Outros usos para o tratamento
Além da infecção por Clostridium difficile, o transplante de fezes tem sido estudado como possível tratamento para:
- Doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e retocolite ulcerativa)
- Síndrome do intestino irritável
- Obesidade
- Síndrome metabólica
- Distúrbios neurológicos (Parkinson, esclerose múltipla e autismo)
- Encefalopatia hepática
- Hepatite crônica
- Púrpura trombocitopênica
- Infecções por bactérias multirresistentes
Os primeiros resultados indicam potencial terapêutico, mas a eficácia do transplante fecal em todas as condições estudadas ainda é motivo de debate na comunidade científica. A manutenção dos benefícios também depende de um estilo de vida saudável, que favoreça o equilíbrio da microbiota reconstituída.
Apesar de ter sido documentado pela primeira vez em 1958, o procedimento só começou a ser realizado no Brasil em 2013. Mesmo sendo uma prática conhecida há décadas, seu uso mais amplo e direcionado segue em fase de investigação