Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma redução preocupante na sua superfície coberta por água, com a queda de 3% registrada em 2024, conforme apontado pelo levantamento do MapBiomas. O panorama atual revela uma realidade alarmante sobre os impactos ambientais, sociais e econômicos dessa diminuição, que não pode ser ignorada.
De acordo com os dados mais recentes, em 2024, a superfície hídrica do Brasil caiu para 17,9 milhões de hectares, uma redução de 2,2% em relação ao ano anterior e 3,2% abaixo da média histórica desde 1985. Este é o segundo ano consecutivo de retração, seguindo uma tendência que já preocupa especialistas.
A diminuição constante da quantidade de água disponível no país é um reflexo direto das mudanças climáticas, da urbanização desordenada e de práticas de manejo inadequadas dos recursos naturais.
Pantanal
O Pantanal, um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta, é o bioma que mais sofre com a diminuição da superfície hídrica. Em 2024, o Pantanal registrou apenas 366 mil hectares cobertos por água, o que representa uma queda de 60% em relação à média histórica.
O ecossistema, que costumava ficar inundado por até seis meses, agora tem seu período de alagamento reduzido para dois ou três meses, ou, em alguns casos, não ocorre de forma alguma. Essa alteração compromete não só a fauna e flora da região, mas também os modos de vida das populações que dependem desses recursos naturais.
Impacto nos biomas brasileiros
Os biomas brasileiros mais afetados pela redução das áreas cobertas por água são a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica. Embora a Amazônia ainda concentre 61% da água do Brasil, há uma tendência de queda no volume de água disponível, afetando todo o ciclo hídrico regional.
O Cerrado, por exemplo, registrou um aumento significativo de corpos d’água artificiais, como reservatórios e represas, que já ultrapassam a água natural em volume, compondo 60% do total de água da região. Embora esses reservatórios possam parecer uma solução temporária, eles não são sustentáveis a longo prazo, já que os corpos d’água naturais estão secando de maneira acelerada.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas estão diretamente relacionadas à queda na superfície hídrica do Brasil. Projeções indicam uma diminuição nas precipitações de chuva em várias regiões do país, o que agrava ainda mais a situação.
As secas prolongadas, cada vez mais frequentes, têm levado à diminuição de nascentes e rios, colocando em risco a produção de alimentos e a segurança hídrica das populações. O fenômeno da escassez de água também afeta os setores de energia e indústria, que dependem da água para a geração de eletricidade e para a produção de diversos bens.
Papel da água artificial
O aumento dos corpos d’água artificiais no Brasil, embora possa parecer uma solução paliativa, levanta sérias questões sobre a eficácia dessas medidas. O uso de represas e reservatórios tem sido uma tentativa de contornar a escassez de água nos períodos de seca, mas essa prática não é sustentável, pois não substitui a perda da água natural dos rios e lagos.
Além disso, os reservatórios exigem uma gestão eficiente para que possam ser mantidos a longo prazo, o que nem sempre ocorre. A água artificial pode até aumentar a disponibilidade em algumas regiões, mas não resolve o problema estrutural da diminuição dos recursos hídricos naturais.
Consequências para a biodiversidade e para a população
A redução da superfície hídrica no Brasil tem impactos diretos sobre a biodiversidade e a vida das populações que dependem da água para o consumo, agricultura e pesca.
Espécies aquáticas e terrestres estão sendo prejudicadas pela diminuição dos habitats, e muitas comunidades, especialmente aquelas em áreas mais vulneráveis, enfrentam dificuldades para acessar água potável e recursos para a agricultura. O impacto nas atividades econômicas é evidente, com a queda na produção agrícola e no fornecimento de alimentos, o que pode gerar uma crise econômica e social de grandes proporções.
Soluções necessárias
Diante desse cenário alarmante, é urgente adotar medidas para conter a perda de recursos hídricos e promover a recuperação da superfície coberta por água no Brasil. Algumas soluções possíveis incluem:
- Preservação das nascentes: Proteger as nascentes e os corpos d’água naturais é fundamental para garantir a recuperação dos níveis hídricos.
- Valorização de áreas úmidas: As áreas úmidas, como pântanos e manguezais, desempenham um papel crucial na regulação do ciclo da água, armazenando água e mitigando os efeitos das secas.
- Gestão sustentável dos recursos hídricos: É necessário um planejamento estratégico para o uso da água, evitando o desperdício e incentivando práticas agrícolas e industriais mais eficientes.
- Restauração de ecossistemas: Investir na restauração de ecossistemas afetados, como o Pantanal e a Mata Atlântica, pode ajudar a recuperar a biodiversidade e melhorar os ciclos hídricos.
É fundamental que o país adote políticas públicas eficazes, promova a conscientização ambiental e busque soluções para recuperar e preservar seus recursos hídricos. A proteção da água é a chave para garantir a qualidade de vida das futuras gerações.