A Psyche Aerospace surgiu como uma das maiores apostas brasileiras em tecnologia agrícola, prometendo transformar o campo com o desenvolvimento do Harpia P-71, um drone agrícola de grande porte e tecnologia híbrida, movido a etanol e eletricidade.
Com capacidade para transportar até 400 kg de defensivos agrícolas, o drone seria o maior do mundo e capaz de pulverizar 500 mil hectares no Brasil, prometendo ganhos de eficiência, sustentabilidade e redução de custos para produtores rurais.
Idealizado por Gabriel Leal, um empreendedor de apenas 24 anos, o projeto despertou enorme interesse no mercado nacional. A inovação tecnológica unida à proposta sustentável chamou atenção em feiras importantes como a Agrishow, além de atrair investidores dispostos a aportar cerca de R$ 19 milhões inicialmente.
O jovem fundador rapidamente se tornou símbolo do futuro do agro tecnológico no Brasil.
As cartas de intenção e o entusiasmo do mercado
Durante o auge das expectativas, várias empresas agrícolas de grande porte firmaram cartas de intenção para o uso do drone Harpia P-71, sinalizando que o produto teria demanda imediata.
O setor agropecuário, sempre aberto a inovações que aumentem produtividade e sustentabilidade, viu no drone uma ferramenta capaz de revolucionar processos tradicionais de pulverização.
Apesar da empolgação inicial, a Psyche Aerospace enfrentou barreiras técnicas significativas para viabilizar o drone em escala comercial. Os testes práticos essenciais foram adiados ou inviabilizados, prejudicando a conversão das cartas de intenção em contratos firmes.
Além disso, o alto custo mensal da operação, que consumia milhões de reais, tornou a continuidade do projeto insustentável sem novos investimentos.
Falha na captação de recursos e o impacto imediato
No início de 2024, a startup tentou captar R$ 50 milhões para manter e expandir o projeto, mas a rodada de investimentos fracassou.
Sem o aporte necessário, a empresa foi obrigada a tomar medidas drásticas: em maio de 2025, a divisão responsável pelo drone foi encerrada e 130 funcionários foram demitidos na sede em São José dos Campos (SP). Essa decisão marcou o fim do sonho do Harpia P-71, ao menos por enquanto.
Com a saída do projeto drone, a Psyche se viu reduzida a uma equipe enxuta de 25 a 30 colaboradores, agora concentrados em Campinas (SP). A empresa passou a focar suas energias em outras soluções tecnológicas para o agro, buscando viabilidade financeira e sustentabilidade a curto prazo.
Aposta em Inteligência Artificial
A alternativa encontrada foi a plataforma Turing, lançada em janeiro, que combina inteligência artificial e imagens de satélite para monitoramento e diagnóstico das lavouras. Conhecida como o “ChatGPT do Agro”, a ferramenta tem funcionalidades para identificar doenças por imagens e avaliar produtividade.
A empresa planeja lançar em breve uma nova versão, gratuita inicialmente, com previsão de cobrança via assinatura mensal, buscando monetizar este produto com maior facilidade.
Apesar da crise, Gabriel Leal mantém a esperança de retomar o projeto Harpia. A Psyche continua em busca de investidores dispostos a aportar entre US$ 30 e 50 milhões para reiniciar os voos experimentais do drone. Essa retomada dependerá da demonstração prática da tecnologia, algo que até agora não foi possível realizar em escala comercial.
A trajetória da Psyche Aerospace revela os grandes desafios do empreendedorismo tecnológico no agro brasileiro. A inovação disruptiva demanda não só criatividade e investimento, mas também maturidade financeira, testes em campo rigorosos e uma estrutura operacional que suporte a complexidade e a escala da operação.
Startups do setor devem estar preparadas para enfrentar um mercado exigente, onde a confiabilidade e a robustez dos produtos são essenciais. O setor observa atentamente a Psyche Aerospace, que ainda pode ser um exemplo de superação e inovação nos próximos anos.