Com o crescimento do desemprego e da informalidade no Brasil, o microtrabalho digital — que consiste na execução de pequenas tarefas online por demanda em troca de dinheiro — tornou-se uma importante fonte de renda para milhares de brasileiros, especialmente para mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Uma pesquisa conduzida pelo Laboratório de Trabalho, Saúde e Processos de Subjetivação (LATRAPS) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), em parceria com o Digital Platform Labour (DiPLab), identificou que o país conta com mais de 50 plataformas de microtrabalho ativas. O estudo apontou que 63% dos trabalhadores nessas plataformas são mulheres.
Microtrabalhos para ganhar dinheiro na internet
Esse tipo de atividade envolve tarefas simples, como responder pesquisas, curtir postagens, assistir vídeos, clicar em links e testar produtos ou sistemas de inteligência artificial. As remunerações, porém, são baixas: pesquisa do IPEA indica que a média mensal dos microtrabalhadores digitais fica entre R$ 300 e R$ 800, valores insuficientes para garantir estabilidade financeira.
Além do desgaste físico e mental, esses trabalhadores enfrentam jornadas fragmentadas, com sessões curtas e intensas em várias plataformas. A falta de regulamentação e fiscalização mantém essa modalidade em situação precária, sem direitos básicos como férias, 13º salário e previdência.
As plataformas afirmam que o trabalho é voluntário e complementar, negando vínculos empregatícios e metas abusivas. No entanto, a Justiça do Trabalho já reconheceu vínculo em alguns casos, obrigando empresas a pagar direitos e ajustar suas práticas.
Perfil brasileiro
No Brasil, o perfil do microtrabalhador digital é diferente do observado em outros países: a maioria é formada por mulheres, que acessam as plataformas com mais frequência e em sessões mais curtas, conciliando o trabalho remunerado com os cuidados familiares. A pandemia de covid-19 intensificou essa realidade, levando muitas mulheres, especialmente mães solo e responsáveis por familiares com deficiência, a recorrerem ao trabalho digital para complementar a renda.
Um estudo do Centro de Estudos da Metrópole aponta que 45% dessas mulheres acumulam tarefas domésticas e cuidado de crianças e idosos, resultando em jornadas diárias que ultrapassam 10 horas. Apesar da flexibilidade tecnológica, a rotina é marcada por longas jornadas, baixa remuneração e riscos à saúde, como fadiga visual e dores musculares.