Profissionais com salários elevados estão reavaliando suas escolhas de vida ao perceber que, mesmo com contracheques generosos, o bem-estar financeiro e emocional está cada vez mais distante. A principal razão é o chamado “aumento do estilo de vida”, quando os gastos crescem no mesmo ritmo da renda, criando uma prisão invisível que gera estresse financeiro até mesmo entre os mais ricos.
Fontes ouvidas pela revista Fortune relataram que muitos abandonaram carreiras altamente lucrativas em busca de caminhos mais simples e com propósito, colocando a realização pessoal, os valores individuais e a saúde acima do status e do sucesso material.
A armadilha do consumo
O fenômeno é conhecido por todos: o primeiro salário marca o início de uma nova liberdade. Com o tempo, vêm os compromissos: carro, hipoteca, filhos. Com as promoções, também surgem novos gastos: casa maior, férias caras, roupas de grife. O que antes parecia um ótimo salário passa a não ser suficiente.
Esse é o ciclo do aumento do estilo de vida, agravado hoje por redes sociais, pressão por aparência e inflação crescente. Mesmo os que estão no topo da pirâmide de renda estão sendo encurralados.
A virada de um ex-CEO
Neal Shah é um exemplo desse movimento. Ex-CEO de uma gestora de investimentos em Nova York, ele seguiu o roteiro tradicional do sucesso: terno de grife, relógio caro, sapatos de mil dólares. Aos 31 anos, já administrava US$ 20 milhões em ativos, mas sentia que faltava algo. “Era como usar algemas de ouro”, lembra Shah. A cultura do setor o pressionava a manter um padrão de vida que ele não valorizava, mas do qual não conseguia se libertar.
A mudança veio quando sua esposa foi diagnosticada com câncer. Ele largou tudo para se tornar cuidador em tempo integral e se mudou para a Carolina do Norte. A experiência o motivou a fundar a CareYaya Health, plataforma que conecta estudantes de medicina a famílias que precisam de apoio. Hoje, com mais de 28 mil estudantes cadastrados em universidades como Harvard e Stanford, a iniciativa não cobra pelos serviços, e Shah não recebe salário.
“Tenho uma vida muito mais satisfatória agora. Financeiramente, poderia ter uma vida luxuosa, mas isso não me move. Ajudar famílias e motivar jovens tem um valor que o dinheiro não pode medir”, afirmou ele.
Pressão social e inflação acentuam o problema
Segundo Judi Leahy, assessora de riqueza da Citi, até clientes milionários estão buscando ajuda para cortar custos. A pressão por manter um padrão de vida elevado e o impacto da inflação, especialmente em itens básicos, tornaram o aumento do estilo de vida um problema ainda mais grave em 2025.
Ela cita o exemplo da compra de ovos: o preço da dúzia passou de US$ 2,99 para mais de US$ 6 em um ano. “Você se acostuma com certos padrões, e quando os preços disparam, continua gastando como antes, mas com muito mais impacto no orçamento”, alerta.
Planejamento financeiro
Para Leahy, a única saída é encarar a realidade de frente. Ela recomenda que as pessoas façam um planejamento financeiro honesto, com diferentes cenários: aposentadoria aos 60 ou 65, venda da casa principal, mudança de padrão de vida.
“Quando tudo está no papel, as decisões ficam mais claras — ou você percebe que pode seguir em frente, ou que vai precisar de um segundo emprego. É nesse momento que a ficha cai”, afirma ela.