No início de abril de 2025, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu suspender a produção, venda e divulgação de suplementos alimentares à base de ora-pro-nóbis.
A decisão surpreendeu consumidores acostumados a ver o produto anunciado na televisão e redes sociais como uma solução quase milagrosa para uma série de problemas de saúde.
No entanto, o que realmente motivou a medida pode chocar: a planta nunca teve eficácia comprovada para os fins prometidos — e, pior, seu uso em suplementos nem sequer era permitido pelas normas brasileiras.
Proibição de suplementos de ora-pro-nóbis tem motivo chocante
A ora-pro-nóbis é o nome popular de algumas espécies do gênero Pereskia, plantas comuns em hortas de quintal, especialmente no Sudeste brasileiro.
Com folhas comestíveis e certo valor nutricional pequeno, a espécie mais consumida no Brasil é a Pereskia aculeata, apelidada de “carne de pobre” por conter uma proporção de proteínas mais elevada do que a maioria das verduras.
Isso, no entanto, não torna o ora-pro-nóbis um superalimento nem justifica seu uso como suplemento diário que promete diversas curas milagrosas.
Apesar disso, empresas passaram a vender produtos que prometiam desde alívio para dores até efeitos anti-inflamatórios, controle de diabetes, e melhora na circulação sanguínea.
A publicidade era agressiva, explorava celebridades muito conhecidas e queridas, principalmente entre idosos, e abusava de alegações terapêuticas — muitas delas claramente sem fundamento.
A Anvisa agiu com base no fato de que não há autorização para o uso da planta como ingrediente de suplementos, e que os rótulos e propagandas violavam diversas normas sanitárias por oferecerem benefícios sem comprovação científica.
Mas o que de fato dizem os estudo sobre a ora-pro-nóbis?
Os estudos existentes sobre a ora-pro-nóbis são escassos e limitados. Alguns testes indicam que a planta pode oferecer fibras e micronutrientes, mas essas informações são baseadas, em grande parte, em análises de laboratório ou estudos com animais.
Ensaios clínicos com humanos são raros e pouco conclusivos.
Um estudo chegou a observar certo aumento na sensação de saciedade e leve melhora em indicadores gastrointestinais, mas a própria pesquisa apontou que os resultados podem ter sido causados por outros fatores, como menor ingestão calórica e prática de atividades físicas.
O mais importante: nenhum estudo sério sugere que a planta deva ser consumida em forma de cápsulas ou suplementos.
A decisão da Anvisa, portanto, se apoia na ciência — e alerta para os riscos de confiar cegamente em promessas sem respaldo.