A construção de um muro no Pontal de Maracaípe, em Ipojuca, no litoral sul de Pernambuco, acendeu um debate acalorado entre defensores do direito ao acesso público às praias e os que alegam direitos à propriedade privada.
Localizada a poucos quilômetros de Porto de Galinhas, uma das áreas turísticas mais procuradas do estado, a praia é conhecida por suas belezas naturais, pelo encontro do rio com o mar e pela forte presença de turistas e moradores que dependem da região para lazer, trabalho e sustento.
A obra, com mais de 500 metros de extensão, foi realizada por um empresário local, João Vita Fragoso de Medeiros, e desde então tem causado reações diversas, com protestos, investigações e disputas judiciais.
Motivações e justificativas por trás da construção
O responsável pela construção do muro argumenta que a estrutura foi erguida dentro dos limites de sua propriedade privada e com o objetivo de proteger o local de invasões e degradação.
No entanto, a área onde o muro foi instalado é considerada de grande relevância ambiental e social, e muitos contestam a validade dessa justificativa. A obra bloqueou rotas de acesso amplamente utilizadas por moradores, turistas e comerciantes da região.
Isso levou muitos a interpretarem a construção como uma tentativa velada de privatizar uma área que, por lei, deve ser de livre acesso.
Impactos diretos sobre a comunidade e o turismo local
As consequências da construção já são sentidas pela população. O muro impôs uma barreira física ao acesso tradicional à praia, obrigando moradores a fazer longos desvios ou a procurar passagens alternativas e, muitas vezes, mais perigosas.
Para os turistas, o bloqueio representa um desconforto e desestímulo à visita, o que tem gerado impacto direto nos pequenos negócios da região, como bares, restaurantes, barracas e pousadas, que dependem da movimentação constante de visitantes.
Com a queda na circulação de pessoas, a economia local sofre, e trabalhadores informais também enfrentam perdas significativas.
Conflitos legais e ambientais em evidência
Do ponto de vista jurídico, a Constituição Federal assegura que todas as praias são bens públicos de uso comum, o que torna ilegal qualquer ação que impeça o livre acesso da população ao litoral.
Além disso, há leis ambientais que proíbem intervenções em áreas de preservação permanente, como manguezais e dunas, características presentes em Maracaípe. Relatórios recentes apontam que a construção do muro pode ter infringido essas normas, o que levou à emissão de ordens de demolição por parte das autoridades.
Apesar disso, até o início de 2025, a estrutura ainda permanecia de pé, o que reforça as críticas à lentidão do poder público em lidar com o caso.
Repercussão social e posicionamentos políticos
A resposta da população não demorou a vir. Diversos grupos da sociedade civil, incluindo moradores, ativistas ambientais, pescadores e barraqueiros, organizaram protestos e mobilizações exigindo a demolição do muro e a retomada do acesso pleno à praia.
Esses movimentos denunciam o que chamam de “privatização disfarçada” de um bem natural. No campo político, parlamentares estaduais e federais passaram a discutir formas de tornar mais rigorosa a legislação que garante o acesso às praias.
A polêmica também reacendeu o debate nacional sobre o avanço de empreendimentos privados sobre áreas costeiras e a ausência de fiscalização efetiva por parte dos órgãos competentes.
O direito à praia, ao lazer e ao patrimônio natural é coletivo e inalienável, e cabe ao poder público assegurar que ele continue sendo exercido por todos os brasileiros.