Em 28 de maio, a Azul Linhas Aéreas protocolou um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos com base no Chapter 11, mecanismo legal que possibilita a renegociação de dívidas com credores internacionais sem a necessidade de suspender as operações da empresa. Com essa medida, a Azul se junta à Gol, que optou pelo mesmo caminho no início de 2024, e à Latam, que utilizou o recurso durante a pandemia, em 2020.
As três maiores companhias aéreas do país passam por momentos de reestruturação profunda, refletindo as dificuldades financeiras que afetam o setor de forma recorrente, mesmo diante das altas tarifas cobradas dos consumidores. Uma das causas centrais da crise é o desequilíbrio entre os custos operacionais, fortemente dolarizados, e as receitas obtidas em moeda local.
Custos das companhias aéreas
Enquanto as companhias aéreas brasileiras arrecadam em reais, a maior parte de seus gastos — como leasing de aeronaves, manutenção e combustível — é dolarizada. O querosene de aviação, que representa de 35% a 40% das despesas, segue os preços do mercado internacional, mesmo sendo amplamente produzido no Brasil.
A essa pressão cambial somam-se tributos estaduais, como o ICMS sobre o combustível, e tarifas aeroportuárias elevadas, o que encarece ainda mais as operações. Durante a pandemia, ao contrário do que ocorreu em muitos países, as empresas do setor no Brasil não contaram com apoio financeiro relevante do governo, o que enfraqueceu o caixa justamente quando a demanda despencou.
Apesar do aumento expressivo no preço das passagens desde então, a alta não foi suficiente para recuperar a lucratividade das companhias. Em vários casos, os bilhetes continuam sendo vendidos abaixo do custo como estratégia para preservar a fatia de mercado, agravando o desequilíbrio financeiro.
Recuperação judicial
A recuperação judicial tem sido utilizada como um recurso para reestruturar dívidas, manter liquidez e assegurar a continuidade das atividades. No caso da Azul, o plano envolve aportes financeiros de companhias estrangeiras, como a United Airlines e a American Airlines, além de uma redução de 35% na frota, com a troca de aeronaves antigas por modelos mais econômicos.
Essa reestruturação indica uma concentração maior das operações nos grandes centros urbanos, com o corte de rotas que oferecem menor retorno financeiro. Para que o setor aéreo brasileiro avance de forma sustentável, é necessário implementar reformas fiscais, criar políticas de incentivo à aviação regional e ampliar a presença de empresas low cost, que ainda são pouco comuns no cenário nacional.