A limpeza doméstica excessiva pode, na verdade, prejudicar mais do que ajudar. De acordo com uma revisão publicada na Nature Reviews Microbiology, o microbioma humano — ou seja, os micróbios que habitam nosso corpo — também é afetado pelo ambiente em que vivemos, incluindo a nossa casa.
Esse ambiente abriga uma variedade de microrganismos, que podem ser benéficos para o funcionamento do sistema imunológico e a saúde em geral. Isso por que uma certa exposição a micróbios diários, encontrados em superfícies domésticas, pode ajudar o sistema imunológico a se adaptar, evitando reações exageradas contra substâncias inofensivas, como em casos de alergias.
Vale mencionar que, embora a higiene seja fundamental, especialistas alertam para os riscos do uso excessivo de produtos desinfetantes agressivos. Esses produtos podem destruir o equilíbrio do microbioma doméstico, levando à eliminação não só dos micróbios indesejáveis, mas também daqueles benéficos.
Por isso, é importante desinfetar apenas quando necessário, como em áreas propensas à proliferação de fungos e bactérias perigosas, como a cozinha e o banheiro. Em outros espaços, a limpeza regular sem o uso excessivo de produtos químicos pode ser mais que suficiente.
Limpeza não é sinônimo de higiene
Outro detalhe importante é que muitas pessoas confundem limpeza com higiene. Durante a pandemia de covid-19, por exemplo, a obsessão por desinfetar tudo tornou-se uma prática comum, impulsionada pela recomendação inicial da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o vírus poderia se espalhar por superfícies contaminadas.
Porém, estudos posteriores demonstraram que o risco de transmissão do vírus pelas superfícies é baixo.
A presidente do Fórum Científico Internacional sobre Higiene Doméstica, Sally Bloomfield, alerta que esses hábitos exacerbados de limpeza podem ser, na verdade, prejudiciais. Ela afirma que, ao invés de se preocupar excessivamente em esfregar pisos ou superfícies, o foco deve ser nas práticas de higiene que realmente ajudam a prevenir doenças, como lavar as mãos após tocar em superfícies compartilhadas, manusear alimentos ou cuidar de pessoas doentes.
Bloomfield explica que a obsessão pela limpeza tem raízes profundas em nossa evolução, com um reflexo de aversão a ambientes sujos, o que é natural para a nossa sobrevivência.
Contudo, vale ressaltar que, apesar de limparmos para evitar germes, é preciso lembrar que a boa higiene vai além de apenas manter a casa “brilhando”. Limpeza em excesso pode, inclusive, ter um efeito negativo sobre nossa saúde.
A higiene que realmente importa
Portanto, é importante focar na higiene essencial para evitar doenças e não na limpeza excessiva. O Fórum Científico Internacional sobre Higiene Doméstica destaca nove momentos fundamentais em que a boa higiene deve ser praticada:
- Ao manusear alimentos;
- Ao comer com as mãos;
- Ao usar o banheiro ou trocar fraldas;
- Ao tossir, espirrar ou quando houver sangramento nasal;
- Ao tocar em superfícies de uso comum;
- Ao manusear e lavar roupas sujas;
- Ao cuidar de animais de estimação;
- Ao manusear resíduos domésticos;
- Ao cuidar de familiares infectados.