Até 2018, os moradores de Olindina, cidade com cerca de 22,6 mil habitantes no nordeste da Bahia, contavam com opções relativamente acessíveis para realizar saques e outras operações financeiras: duas agências bancárias oficiais e uma casa lotérica.
Além disso, existiam os chamados “pontos de saque”, locais informais onde comerciantes locais faziam a intermediação para sacar dinheiro, em uma espécie de parceria não oficial com bancos.
No entanto, desde então, o cenário mudou drasticamente: o Banco do Brasil fechou sua agência, e agora, em 2025, o Bradesco anunciou o encerramento das suas operações na cidade, deixando os moradores sem nenhuma agência bancária presencial.
Esse fenômeno não é isolado, mas uma realidade que se espalha por várias cidades do interior da Bahia e de outras regiões do país.
Consequências diretas para a população local
A ausência de agências físicas causa um impacto imediato na vida da população, especialmente nos grupos mais vulneráveis:
- Fila nas lotéricas e pontos de saque: Com a lotérica como única alternativa formal, as filas crescem, e o atendimento não consegue absorver toda a demanda.
- Informalidade e limitação nos saques: Nos pontos de saque, por exemplo, se um morador deseja sacar R$ 1 mil, mas o comércio só tem R$ 500 em caixa, é preciso aguardar que novos pagamentos sejam realizados para completar o valor. Isso cria dificuldades e insegurança no acesso ao dinheiro.
- Deslocamento para cidades vizinhas: Para sacar aposentadorias ou realizar outras operações, os moradores precisam viajar dezenas de quilômetros, no caso de Olindina, até Itapicuru, que fica a 19 km de distância.
- Exclusão digital e dificuldades de acesso online: Muitos moradores, principalmente os idosos (que representam cerca de 21% da população local), têm pouca familiaridade com aplicativos bancários. Além disso, a baixa qualidade da conexão à internet dificulta ainda mais o acesso aos serviços digitais, agravando a exclusão financeira.
Motivações do fechamento
Entre outubro de 2023 e março de 2025, o Bradesco fechou 36 unidades no interior da Bahia, incluindo agências e pontos de atendimento, em um processo que vem se intensificando desde 2014.
O banco alega que o movimento faz parte de uma estratégia de reestruturação para reduzir custos e aumentar a rentabilidade, aproveitando o crescimento do uso de canais digitais para a maioria das transações.
- Redução de custos e aumento da eficiência: O Bradesco afirma que 99% das transações hoje são realizadas via digital, e que a base de clientes cresceu, mas sem necessidade de manter tantas agências físicas.
- Reorganização interna e demissões: O fechamento das agências envolve realocação de funcionários, mas inevitavelmente provoca demissões. Mais de 50 trabalhadores foram dispensados só no último semestre.
Cidades baianas onde o Bradesco encerrou agências ou postos de atendimento
Segundo informações do Sindicato dos Bancários da Bahia, entre outubro de 2023 e março de 2025, o banco fechou unidades em várias cidades do estado.
Abaixo, uma lista das cidades baianas onde o Bradesco encerrou suas agências ou pontos de atendimento:
- Antas
- Banzaê
- Sítio do Quinto
- Coronel João Sá
- Itaite
- São Félix do Coribe
- Javi
- Ibitiara
- Mucugê
- Abaíra
- Barra do Rocha
- Gongogi
- Nova Soure
- Itapicuru
- Botuporã
- Valente
- Barrocas
- Lamarão
- Boninal
- Cairu
- Igrapiúna
- Wenceslau Guimarães
- Laje
- Adustina
- Novo Triunfo
- Heliópolis
- Vera Cruz
- Palmeiras
- Rodelas
- Ipacaetá
- Serra do Ramalho
- Serra Dourada
- Inhambupe
- Paripiranga
- Paratinga
- São Felipe
Esses fechamentos têm gerado preocupação entre os moradores, especialmente em comunidades onde o Bradesco era a única instituição bancária presente, obrigando os clientes a se deslocarem para municípios vizinhos para acessar serviços bancários essenciais.