Na Europa, um pequeno mamífero chama a atenção por um comportamento peculiar: sua capacidade de diminuir o tamanho da cabeça em até 30% durante o inverno. Trata-se do musaranho eurasiano (Sorex araneus), uma das raras espécies de mamíferos venenosos, que utiliza toxinas produzidas em suas glândulas salivares para capturar e armazenar presas.
Os musaranhos eurasianos exibem outra característica surpreendente: a habilidade de reduzir não apenas o cérebro, mas também outros órgãos. Em 2017, cientistas na Alemanha observaram que esses animais apresentam uma diminuição significativa no tamanho do crânio e na massa corporal durante o inverno, com o volume cerebral reduzindo entre 20% e 30%, conforme descrito na revista Current Biology.
Mamífero que diminui o cérebro
Na primavera, o crescimento do crânio e do corpo dos musaranhos é retomado, retornando quase às dimensões originais. Segundo Javier Lazaro, do Instituto Max Planck, essa adaptação é provavelmente uma estratégia para lidar com o metabolismo rápido da espécie. Ao reduzir a massa corporal e o gasto energético, os musaranhos conseguem enfrentar os desafios de um ambiente com recursos limitados durante o inverno, já que não migram nem entram em hibernação.
O chamado “efeito Dehnel“, batizado em homenagem ao pesquisador que o identificou inicialmente, também foi registrado em outras subfamílias de musaranhos, como os de-dentes-vermelhos e os musaranhos-da-água. No entanto, ainda é desconhecido o número exato de espécies com essa habilidade ou o impacto que ela pode ter em suas funções cognitivas.
Animais no inverno
Na natureza, os animais desenvolvem três principais estratégias para lidar com temperaturas extremas: migração, hibernação ou resistência ao frio. Certas espécies, como morcegos e pássaros, deslocam-se para regiões mais quentes, enquanto mamíferos, como ursos, recorrem à hibernação para economizar energia.
Os pinguins-imperadores dependem de sua resistência natural para enfrentar temperaturas de até -40 °C, utilizando a alta densidade de suas penas e seu comportamento coletivo como ferramentas de sobrevivência. Cada espécie adota estratégias únicas para superar o inverno, evidenciando a notável variedade de adaptações no reino animal.