O Domo de Araguainha, localizado nas cidades goianas de Doverlândia, Mineiros e Santa Rita do Araguaia, no Brasil, é um dos sítios geológicos mais fascinantes do planeta.
Considerada a maior cratera de impacto causada por meteoro da América do Sul, ela é um verdadeiro tesouro para a pesquisa científica, com uma história que remonta a cerca de 250 milhões de anos, quando um asteroide de aproximadamente 4 quilômetros de diâmetro colidiu com a Terra.
Hoje, essa “cicatriz” deixada pela colisão se tornou uma rica área de estudos e deve se transformar em um parque geológico, destacando-se no cenário mundial.
Colisão
O Domo de Araguainha foi resultado de um impacto de meteoro de grandes proporções, que ocorreu na primeira fase da era Mesozóica, um período pré-Jurássico, conhecido pela presença dos dinossauros.
O asteroide, que viajava a velocidades que variavam entre 14 e 16 km por segundo, causou um impacto tão forte que resultou em um evento de metamorfismo de choque, transformando as rochas da região devido às altíssimas pressões e temperaturas. Esse fenômeno único afeta a superfície da Terra de maneira que não ocorre em nenhum outro tipo de colisão.
Descoberta e estudos científicos
A descoberta do Domo de Araguainha remonta à década de 1970, quando os pesquisadores da NASA, Robert Dietz e Bevan French, foram os primeiros a sugerir que a formação da cratera poderia ter sido causada por um asteroide.
No entanto, foi apenas em 1978 que o geólogo brasileiro Álvaro Crósta, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), forneceu provas sólidas de que o impacto era de fato o responsável pela formação da cratera.
Ele detalhou que, no momento da colisão, a região era um vasto mar de águas rasas, o que causou uma série de terremotos e tsunamis que afetaram áreas de até 500 km de distância.
Características da cratera
Com um diâmetro impressionante de 40 quilômetros e uma área total de cerca de 1.300 km², o Domo de Araguainha ocupa uma área maior que a cidade do Rio de Janeiro, que possui aproximadamente 1.200 km².
A cratera é uma das maiores do mundo e, ao lado de outras crateras da América do Sul, como a cratera de Cabeza de Vaca na Argentina e a cratera de Vilhena, no Brasil, ocupa um lugar de destaque entre as mais estudadas e preservadas. Em 2006, foi reconhecida pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS) como um dos 100 principais sítios geológicos do mundo.
Tesouro geológico e mineralogico
Além de sua importância histórica e geológica, o Domo de Araguainha é rico em minerais raros, como o zircão, que tem sido estudado por cientistas para compreender melhor o impacto e as mudanças que ocorreram na crosta terrestre após a colisão.
O processo de metamorfismo de choque, resultante da pressão extrema gerada pelo impacto do meteoro, transformou essas rochas e os minerais nelas contidos, criando formações que não podem ser encontradas em outros locais do planeta.
Idade do impacto
Estudos realizados com isótopos, átomos do mesmo elemento com diferentes números de nêutrons, permitiram determinar que o asteroide que causou a cratera tinha entre 201 e 250 milhões de anos.
Esse período, ainda na Era Mesozóica, foi o palco de grandes transformações na Terra, incluindo a evolução de espécies que mais tarde se tornariam os dinossauros. Apesar do impacto ter sido macroscópico para a região, acredita-se que ele não tenha causado uma extinção em massa global, mas sim um grande evento de destruição e mudanças ambientais de escala regional, afetando principalmente répteis e anfíbios.
Importância científica e cultural
A cratera de Araguainha é considerada uma janela para o passado distante da Terra, sendo um local de interesse não só para geólogos, mas também para arqueólogos e biólogos.
Além disso, ela possui um grande valor educacional e turístico, atraindo pesquisadores, estudantes e curiosos interessados em conhecer o impacto de asteroides na formação do nosso planeta. Por sua relevância, o Domo de Araguainha deve ser transformado em um parque geológico, com a criação de um centro de visitantes e novas formas de preservação, promovendo a educação científica.
Olhar para o futuro
Embora o impacto de Araguainha não tenha causado uma catástrofe global, ele foi um dos muitos eventos que marcaram a formação e a evolução do planeta Terra.
O estudo dessas formações impactadas, como o Domo de Araguainha, oferece insights sobre os processos geológicos que continuam a moldar a superfície do nosso planeta, além de permitir uma melhor compreensão dos eventos de impacto que poderiam ocorrer novamente em um futuro distante.
Ao mesmo tempo, o Domo de Araguainha é um exemplo notável de como a geologia brasileira contribui para o conhecimento mundial sobre os fenômenos naturais, e, ao ser transformado em um parque geológico, pode não apenas proteger essa área única, mas também gerar novas oportunidades para a pesquisa científica e o turismo sustentável.