Uma investigação conduzida pelo jornal britânico The Guardian, em parceria com o consórcio europeu Voxeurop, revelou uma contradição alarmante no financiamento da luta contra a crise climática.
De acordo com a apuração, bilhões de dólares que deveriam ser destinados a projetos sustentáveis estão, na verdade, indo parar nos cofres de empresas que figuram entre as maiores responsáveis pelas emissões globais de gases de efeito estufa.
Jornal diz que empresas poluidoras recebem dinheiro de combate à crise climática
O relatório aponta que fundos de investimento classificados como sustentáveis na Europa — conhecidos por sua promessa de apoiar práticas ambientais responsáveis e combater a crise climática — têm direcionado recursos substanciais a companhias do setor de combustíveis fósseis.
Estima-se que mais de 33 bilhões de dólares tenham sido aplicados em gigantes do petróleo como Shell, BP, Chevron, ExxonMobil e TotalEnergies.
Juntas, essas cinco empresas lideram o ranking das mais poluidoras do planeta, conforme dados recentes da organização Carbon Majors.
Esses fundos são regulamentados pela SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation), uma legislação europeia criada para garantir transparência nos investimentos sustentáveis.
Os fundos classificados nos artigos 8 e 9 da SFDR são, em teoria, voltados para promover objetivos ambientais e sociais e combater a crise climática.
No entanto, a investigação mostrou que mesmo sob esse selo, gestores continuam financiando empresas com histórico consolidado de danos ambientais.
Além das cinco grandes, outras empresas como a americana Devon Energy e a canadense Suncor também foram beneficiadas por esses aportes.
Na justificativa de investidores como BlackRock, JP Morgan e DWS, a estratégia seria manter influência dentro das empresas para induzir mudanças em suas práticas. Entretanto, especialistas em clima discordam dessa abordagem.
Relatórios da organização Carbon Tracker indicam que nenhuma das principais petrolíferas possui planos compatíveis com os compromissos estabelecidos pelo Acordo de Paris. Ao contrário, muitas reduziram suas metas de descarbonização no último ano.
Organizações que combatem a crise climática alertam sobre riscos
O escândalo levantou críticas severas de organizações ambientalistas que combatem a crise climática.
A entidade Transport & Environment classificou a prática como um caso evidente de greenwashing — quando ações supostamente sustentáveis são usadas para mascarar impactos negativos.
Para ativistas, permitir que fundos com rótulo “verde” continuem financiando atividades ligadas aos combustíveis fósseis compromete os esforços globais de enfrentamento à crise climática.
O risco, segundo analistas, é que bilhões sejam desviados de projetos que poderiam de fato acelerar a transição energética e mitigar os efeitos do aquecimento global.