Segundo um estudo divulgado na The Lancet Global Health, no Brasil, o principal fator de risco para o declínio cognitivo entre os idosos não está associado ao sexo ou a condições de saúde pré-existentes, mas sim ao nível de escolaridade baixo.
A pesquisa ressalta que, para prevenir o declínio cognitivo, é essencial investir em educação desde os primeiros anos de vida, conforme aponta Eduardo Zimmer, professor da UFRGS e responsável pela pesquisa. O estudo, com apoio do Instituto Serrapilheira, analisou dados de 41 mil pessoas da América Latina, incluindo 9.412 brasileiros do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil).
Declínio cognitivo nos idosos
O declínio cognitivo, que inclui perda de memória, habilidades linguísticas e raciocínio, é comum após os 50 anos, mas pode ser intensificado por diversos fatores. Além da escolaridade, outros riscos para os brasileiros incluem problemas de saúde mental, falta de exercício, tabagismo e isolamento social.
Usando inteligência artificial e machine learning, os pesquisadores cruzaram informações sobre risco, status socioeconômico e educação para identificar as causas do declínio cognitivo. A pesquisa revelou que, enquanto em países do Norte global fatores como idade, sexo e doenças são predominantes, a realidade social e econômica da América Latina altera esses padrões.
Educação formal
A educação formal tem um papel crucial nesse cenário. Pesquisas anteriores, como a realizada pela Universidade de São Paulo (USP) em 2022, indicaram que o tempo dedicado à educação formal está diretamente relacionado ao risco de demência.
A educação formal contribui para a criação de uma “reserva cognitiva”, ou seja, gera conexões neurais extras no cérebro. Idosos com maior nível educacional têm diversas vias para acessar informações, o que ajuda a compensar os danos ocasionados por lesões degenerativas ao longo dos anos. Por outro lado, aqueles com menor escolaridade possuem uma única via de comunicação entre os neurônios, o que os torna mais suscetíveis à perda de memória.
O estudo aponta que a educação formal não é a única maneira de estimular o cérebro. Atividades cognitivas alternativas, como ler, aprender novos idiomas ou realizar exercícios mentais, também podem trazer benefícios. Contudo, esses efeitos ainda precisam ser mais investigados para uma melhor compreensão.