O Nubank, uma das maiores instituições financeiras digitais em operação no Brasil e América Latina, com uma base superior a 80 milhões de clientes só no território nacional, anunciou a contratação de Roberto Campos Neto, que comandou o Banco Central do Brasil até dezembro de 2024.
O economista, que foi escolhido para integrar a liderança da fintech, assumirá um novo cargo executivo a partir de 1º de julho, e confirmou o anuncio antes de completar integralmente o período de quarentena exigido a ex-autoridades públicas de alto escalão.
Ex-presidente do Banco Central ganha cargo no Nubank
A nomeação do ex-presidente do Banco Central foi divulgada em comunicado oficial do Nubank na noite da última terça-feira (06/05). O banco criou especialmente para ele a função de “vice-presidente” e “chefe global de políticas públicas”, uma posição inédita no organograma da empresa.
Apesar da denominação em inglês usada pelo banco — “vice-chairman” — sugerir uma ligação com o conselho de administração, o Nubank afirmou que sua função não será essa.
Na prática, o ex-presidente do Banco Central será responsável por apoiar o processo de internacionalização da marca, além de atuar como interlocutor com reguladores financeiros em diferentes mercados e participar da formulação estratégica da companhia na América Latina.
Campos Neto estará diretamente subordinado a David Vélez, fundador, CEO e presidente do conselho do Nubank.
Em nota, Vélez destacou a expertise do novo executivo, especialmente no uso de tecnologia para modernização do sistema financeiro, mencionando iniciativas como o PIX e o Open Finance.
Já Campos Neto afirmou estar motivado para começar essa nova etapa da carreira, e expressou entusiasmo com o desafio de liderar equipes no desenvolvimento de soluções financeiras inovadoras.
Mesmo antes de concluir o período de seis meses de afastamento imposto por lei — a chamada quarentena — Campos Neto já havia comunicado à Comissão de Ética Pública sua intenção de integrar a equipe do Nubank.
Ele também assumirá uma cadeira no conselho de administração da instituição, embora a posição de vice-presidente do conselho, até o momento, permaneça vaga.
Ex-presidente do BC sofreu críticas durante mandato
A trajetória de Roberto Campos Neto é marcada por sua longa atuação no setor financeiro. Antes de assumir o Banco Central, teve passagens pelo Santander Brasil e pela gestora Claritas.
Com formação acadêmica em economia pela Universidade da Califórnia (UCLA), construiu uma reputação como técnico experiente, embora sua gestão no Banco Central tenha sido alvo de fortes críticas.
Durante seu mandato à frente da política monetária brasileira, foi acusado por setores da oposição de implementar uma estratégia que favorecia o mercado financeiro, especialmente os grandes bancos e investidores.
A principal controvérsia girava em torno da elevação contínua da taxa Selic — usada pelo Banco Central como ferramenta para conter a inflação — que, segundo críticos, acabou por penalizar a população mais pobre com o encarecimento do crédito e o aumento dos preços.
Agora, a rápida transição para o setor privado levanta novas polêmicas. Muitos brasileiros têm questionado se o intervalo de afastamento entre a saída do serviço público e a entrada em uma grande empresa do mercado financeiro foi suficiente para evitar conflitos de interesse.
A contratação de Campos Neto, portanto, reacende o debate sobre a independência do Banco Central e a relação entre Estado e mercado — e os limites éticos dessa interação.