Um estudo recente, conduzido pelo Laboratório Marinho de Plymouth (PML), no Reino Unido, revelou que a acidificação dos oceanos, causada pela absorção excessiva de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, ultrapassou um limite perigoso para o equilíbrio ambiental planetário em 2020.
Essa descoberta, divulgada somente agora, reforça a urgência das discussões e ações para mitigar os impactos das mudanças climáticas e suas consequências nos ecossistemas marinhos.
A acidificação oceânica ocorre quando o CO2 atmosférico é absorvido pela água do mar, provocando uma redução no pH dos oceanos, tornando-os mais ácidos.
Esse processo diminui a concentração de carbonato de cálcio, um elemento fundamental para a formação de esqueletos, conchas e estruturas calcárias de diversas espécies marinhas, como corais, moluscos e certos tipos de plâncton.
Limites planetários
O conceito de limites planetários, desenvolvido em 2009 pelo Centro de Resiliência de Estocolmo, acompanha nove processos críticos impactados pela ação humana, incluindo a mudança climática, poluição química, uso da terra e acidificação dos oceanos.
Antes deste estudo, já se sabia que seis desses limites haviam sido ultrapassados. Com a confirmação da acidificação oceânica, o total sobe para sete.
Essa ultrapassagem indica que a capacidade do planeta de manter seu equilíbrio natural está sendo comprometida, aumentando o risco de colapsos ambientais e ecológicos que podem afetar a vida humana e a biodiversidade global.
Impactos diretos no ecossistema marinho
A acidificação reduz a disponibilidade de carbonato de cálcio, dificultando a formação das conchas e esqueletos de animais marinhos. Consequentemente, espécies como corais perdem sua capacidade de crescimento e resistência, moluscos desenvolvem conchas frágeis, e habitats fundamentais para a vida marinha, como os recifes de coral, sofrem danos severos.
Além disso, alterações na fisiologia e reprodução das espécies marinhas, afetam a biodiversidade e a cadeia alimentar dos oceanos, provocando um efeito cascata que pode comprometer toda a vida marinha e, por extensão, as comunidades humanas que dependem dos recursos oceânicos.
Dados do estudo
O estudo utilizou medições históricas coletadas ao longo de 150 anos, combinadas com técnicas modernas e modelos computacionais avançados. Foi constatado que, desde 2020, cerca de 60% dos oceanos com até 200 metros de profundidade e 40% das águas superficiais globais apresentaram níveis de acidificação além do limite seguro.
Entre os impactos específicos estão:
- Redução de 43% no habitat de recifes de coral tropicais e subtropicais.
- Declínio de 61% no habitat dos pterópodes polares (pequenos organismos marinhos conhecidos como borboletas marinhas).
- Diminuição de 13% no habitat dos bivalves costeiros.
Esses dados ilustram a gravidade da situação e o risco crescente para o equilíbrio dos ecossistemas oceânicos.
Consequências socioeconômicas e ambientais
A acidificação dos oceanos não afeta apenas a vida marinha; ela traz impactos diretos para as economias costeiras que dependem da pesca, do turismo e da biodiversidade marinha.
A fragilização dos recifes de coral, por exemplo, reduz a proteção natural contra tempestades e erosão, além de comprometer a indústria pesqueira que se apoia nesses habitats.
Ademais, o avanço da acidificação pode agravar os efeitos das mudanças climáticas, elevando o nível do mar, intensificando eventos climáticos extremos e prejudicando a segurança alimentar global.
O papel do Brasil e da COP30 na luta contra a acidificação
Diante desse cenário, o Brasil, país com extensa costa marítima e um dos maiores biomas oceânicos do mundo, assume papel crucial na discussão global.
A próxima Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), que o Brasil sediará, representa uma oportunidade estratégica para fortalecer a conexão entre os oceanos e o clima, promovendo políticas eficazes para reduzir as emissões de CO2 e ampliar o sequestro de carbono.
A acidificação dos oceanos ultrapassar seu limite planetário representa um chamado urgente à ação. Por ser um fenômeno silencioso, muitas vezes invisível ao cotidiano das pessoas, é fundamental ampliar o conhecimento e o debate público sobre seus impactos.
Só com a mobilização internacional, nacional e local será possível reverter o cenário atual, garantindo a saúde dos oceanos, a proteção da biodiversidade marinha e a sobrevivência das futuras gerações.