A pandemia de Covid-19 representou um marco histórico para a ciência, especialmente no campo da genômica.
A rapidez com que as cientistas brasileiras Ester Sabino e Jaqueline de Jesus conseguiram sequenciar o coronavírus, apenas dois dias após o primeiro caso confirmado no Brasil, impressionou o mundo e mostrou o potencial dessa tecnologia para transformar a resposta a crises sanitárias.
Esse sequenciamento rápido forneceu informações essenciais para o desenvolvimento de vacinas, diagnósticos e tratamentos, acelerando o combate à doença em escala global.
Além disso, essa agilidade só foi possível porque os laboratórios já estavam preparados para lidar com vírus como o da dengue, o que evidenciou a importância de se manter uma infraestrutura científica robusta mesmo em tempos sem emergências.
Crescente desafio das doenças infecciosas emergentes e reemergentes
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um aumento preocupante nos casos de dengue, especialmente com o ressurgimento do sorotipo 3 do vírus, que não circulava no país há mais de uma década.
Essa situação criou um cenário favorável para a disseminação acelerada da doença, uma vez que a população estava vulnerável, sem imunidade natural. Além da dengue, a circulação simultânea de diferentes vírus, como o influenza e o SARS-CoV-2, cria uma complexidade maior para os sistemas de vigilância genômica.
Esses agentes infecciosos em constante mutação exigem um monitoramento contínuo e detalhado para que as estratégias de prevenção e controle possam ser adaptadas em tempo real.
Importância das redes de vigilância genômica
Instituições brasileiras, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan, têm desempenhado papéis fundamentais na vigilância e estudo dos vírus que circulam no país.
A criação de redes genômicas, que integram laboratórios e profissionais de saúde de diferentes regiões, tem possibilitado o compartilhamento ágil de dados e o treinamento técnico necessário para enfrentar os desafios impostos pelas doenças infecciosas.
Essas iniciativas são essenciais para identificar rapidamente novas variantes, acompanhar a evolução dos vírus e garantir que as medidas de saúde pública estejam sempre atualizadas e efetivas.
Riscos que as doenças infecciosas impõem ao sequenciamento genético
Apesar dos avanços, o aumento exponencial das doenças infecciosas pode representar um risco para a continuidade e eficácia do sequenciamento genético. Laboratórios podem ser sobrecarregados, o que atrasaria a obtenção de dados importantes para o controle dos surtos.
Além disso, os altos custos e a necessidade constante de atualização tecnológica demandam investimentos robustos e contínuos, que nem sempre são garantidos diante de crises econômicas ou mudanças nas prioridades políticas.
A rápida evolução dos vírus, com mutações frequentes, também desafia a capacidade dos cientistas de acompanhar e interpretar essas mudanças de forma ágil e precisa.
Caminhos para fortalecer o sequenciamento genético frente às doenças infecciosas
Para que o sequenciamento genético continue sendo uma ferramenta estratégica no combate às doenças infecciosas, é fundamental apostar na inovação tecnológica, desenvolvendo métodos mais eficientes, acessíveis e automatizados.
Além disso, a ampliação da capacitação técnica e o fortalecimento das redes colaborativas são essenciais para garantir que o conhecimento e os recursos estejam distribuídos de forma equitativa em todo o país e na América Latina.
Políticas públicas que assegurem financiamento constante e visão estratégica para a saúde pública são indispensáveis para manter a infraestrutura científica preparada para os desafios atuais e futuros.
O papel da genômica no futuro da saúde pública
A genômica tem potencial para transformar não apenas o combate a doenças infecciosas, mas também diversas outras áreas da medicina. Ela permite a prevenção personalizada, identificando grupos de risco e possibilitando intervenções mais direcionadas e eficazes.
O monitoramento genômico contínuo possibilita a detecção precoce de mutações e o controle rápido de epidemias. Essa tecnologia já vem revolucionando o tratamento de doenças genéticas, câncer e outras condições crônicas, mostrando que seu impacto no futuro da saúde será ainda maior.