A frase de Karl Popper, “o aumento do conhecimento depende totalmente da discordância”, reflete um princípio profundo, aplicável não apenas à ciência, mas também às nossas interações sociais e discussões cotidianas.
Para que uma discordância tenha o poder de mudar a opinião de alguém, é necessário criar as condições adequadas para uma troca de ideias produtiva e respeitosa. Recentemente, estudos psicológicos têm demonstrado que uma abordagem eficaz para mudar a opinião de outra pessoa envolve a partilha de experiências pessoais.
A discordância como oportunidade de crescimento
A primeira questão que surge diante de um desacordo é: como podemos torná-lo construtivo? Em muitas situações, o simples ato de discordar pode ser visto como uma oportunidade de crescimento e aprendizado, desde que a conversa seja conduzida de maneira aberta e respeitosa.
As novas pesquisas psicológicas sugerem que ao compartilhar experiências pessoais durante uma discussão, as pessoas se tornam mais propensas a reconsiderar seus pontos de vista. O que muitos não sabem é que os fatos, por mais irrefutáveis que pareçam, nem sempre têm o poder de convencer.
As pessoas tendem a se conectar mais com as emoções e histórias que estão por trás desses fatos, algo que é capaz de promover uma empatia mútua e abrir portas para o entendimento.
O poder das experiências pessoais
Quando discutimos questões polêmicas, como política, religião ou comportamento social, os dados e estatísticas são frequentemente usados para justificar uma posição.
No entanto, estudos mostram que, quando uma pessoa compartilha sua experiência pessoal, ela se torna mais acessível e compreensível para o outro. Isso ocorre porque, ao falar de suas vivências, as pessoas demonstram uma dimensão humana que os números por si só não conseguem expressar.
Como foi observado nos experimentos realizados por Emily Kubin e seus colegas, os participantes de uma pesquisa se mostraram mais dispostos a respeitar e ouvir alguém que compartilhasse uma história pessoal em vez de apenas apresentar argumentos factuais.
Importância de fazer as perguntas certas
Uma das grandes descobertas desses estudos é que, muitas vezes, as pessoas não estão tão dispostas a convencer outras de suas ideias como nós imaginamos. Em uma pesquisa realizada com 1.912 participantes, observou-se que as pessoas superestimam o desejo de convencimento do outro e subestimam a intenção de aprender e compreender.
Isso sugere que, ao iniciar uma conversa, muitas vezes nos focamos em nos defender ou convencer, sem perceber que o outro pode estar mais disposto a discutir do que pensamos. Fazer a pergunta certa, como “Você poderia me explicar por que pensa dessa forma?”, pode criar um ambiente mais acolhedor para um diálogo genuíno.
Importância da curiosidade
Uma das chaves para promover um debate saudável é demonstrar um real interesse pelas convicções da outra pessoa. O simples ato de ouvir e fazer perguntas genuínas sobre as opiniões do outro pode suavizar as tensões.
A curiosidade ativa e o desejo de aprender não apenas reduzem as defesas, mas também incentivam a outra pessoa a abrir a mente para novos pontos de vista. Como mostraram os experimentos de Guy Itzchakov e seus colegas, fazer perguntas sobre as crenças e motivações do outro torna as pessoas mais abertas e dispostas a considerar opiniões alternativas.
Combinação de dados e experiências pessoais
Embora as experiências pessoais desempenhem um papel significativo, elas não precisam ser usadas de forma isolada. Quando combinadas com dados e fatos, as histórias pessoais podem reforçar a credibilidade de um argumento, criando uma argumentação mais equilibrada e eficaz.
O estudo de cabos eleitorais durante as eleições americanas de 2018 ilustra essa combinação. Aqueles que compartilhavam suas histórias pessoais, além de apresentar dados estatísticos, conseguiram engajar mais os eleitores e influenciar suas opiniões de maneira mais significativa do que aqueles que usavam apenas fatos impessoais.
A eficácia de conversas curtas e respeitosas
As mudanças nas opiniões podem ocorrer mesmo em conversas curtas. Como mostram os resultados de estudos como o de 2018, mudanças podem ocorrer em debates rápidos de apenas 11 minutos, se a conversa for baseada no respeito mútuo e na partilha de experiências.
Isso desafia a ideia de que apenas grandes debates ou longas discussões podem resultar em mudanças de opinião. O que realmente importa é a forma como nos comunicamos e a disposição de ouvir.
O poder da troca de experiências é inegável, e, como mostram as pesquisas, ele pode fazer toda a diferença na mudança de perspectivas.