No campo da saúde, ainda são difundidas concepções antiquadas sobre o luto e a superação dele, que podem mais desorientar do que amparar aqueles que enfrentam uma perda. Ilana Pinsky, psicóloga clínica, doutora pela Unifesp e ex-consultora da OMS e da OPAS, ressalta que certas correntes da psicanálise retratam o luto como um processo demorado e sofrido, no qual a pessoa deve reviver todas as lembranças do falecido antes de conseguir seguir adiante.
A teoria das cinco fases do luto — negação, raiva, barganha, depressão e aceitação —, formulada por Elisabeth Kübler-Ross, tornou-se amplamente conhecida. No entanto, apesar de sua popularidade, não há comprovação científica de que essa sequência seja um percurso inevitável ou universal para lidar com a perda.
Como funciona o luto?
A ideia das fases do luto se tornou popular por oferecer um roteiro emocional aparentemente previsível para alcançar a superação. No entanto, essa abordagem pode ser restritiva, levando muitas pessoas a sentir que precisam seguir um padrão fixo. Quando não vivenciam todas as etapas ou se recuperam rapidamente, podem enfrentar sentimentos de culpa ou julgamentos por não estarem “sofrendo da maneira esperada”.
Pesquisas do psicólogo George Bonanno, da Universidade Columbia, indicam que o luto não segue um padrão único. A maioria das pessoas enlutadas (60%) demonstra resiliência, enfrentando sintomas leves que diminuem com o tempo.
Processo de superação
Outros passam por um processo de superação mais prolongado, enquanto 7% se recuperam rapidamente, desafiando a ideia de que um luto adequado precisa ser extenso e doloroso. Um estudo dinamarquês corroborou esses resultados, mostrando que as diferentes trajetórias do luto variam de acordo com o vínculo com o falecido e o apoio emocional disponível.
A noção de que o luto deve seguir um caminho pré-determinado muitas vezes ignora sua natureza subjetiva. Desde 2022, o Transtorno do Luto Prolongado é reconhecido como uma condição clínica, afetando aproximadamente 7% dos enlutados, que enfrentam um sofrimento intenso por mais de um ano. Ainda assim, a maioria das pessoas consegue encontrar maneiras próprias de seguir em frente.