Os céus do deserto chileno, considerados entre os mais propícios para a observação astronômica, estão sob ameaça devido à expansão urbana e industrial. Antes protegidos pelo isolamento geográfico, os observatórios começam a enfrentar um aumento na poluição luminosa, o que gera preocupação entre os cientistas.
No Observatório Paranal, por exemplo, a interferência da luz artificial já representa aproximadamente 1% do brilho do céu noturno. O astrônomo Angel Otarola, integrante do comitê de poluição luminosa da Sociedade Chilena de Astronomia, adverte que a expansão de novos projetos na região pode prejudicar a visibilidade essencial para pesquisas astronômicas.
Céu do Chile
Como principal produtor mundial de cobre e segundo maior de lítio, o Chile tem testemunhado um rápido crescimento da mineração e de iniciativas de energia renovável. Um exemplo é o projeto Inna, um grande complexo de hidrogênio e amônia da AES Andes. Embora a empresa assegure que a interferência luminosa será mínima, especialistas em astronomia temem impactos relevantes na observação do céu.
Com o objetivo de conciliar o progresso industrial com a conservação dos céus escuros, o governo chileno formou um comitê de especialistas. A astronomia é considerada uma área estratégica para o Chile, que sedia importantes iniciativas, como o Telescópio Extremamente Grande (ELT), atualmente em construção no Cerro Armazones.
Poluição luminosa
Além de prejudicar a pesquisa científica, a poluição luminosa também afeta a saúde humana e o equilíbrio dos ecossistemas, alterando ritmos biológicos e desorientando espécies migratórias. O chamado skyglow, provocado pela dispersão de luz artificial na atmosfera, torna a observação astronômica ainda mais desafiadora. Pesquisas apontam que, entre 2011 e 2021, a iluminação artificial aumentou 9,6% anualmente, impulsionada principalmente pela popularização das lâmpadas LED.
Para enfrentar esse desafio, algumas nações implementam iniciativas como reservas de céu escuro e normas para a iluminação pública. A proteção da escuridão noturna vai além da ciência, sendo também uma questão ambiental e cultural, essencial para que as futuras gerações continuem investigando o cosmos sem os impactos da luz artificial.