Estudos recentes têm revelado que o impacto da atividade física na saúde varia significativamente conforme o contexto em que ela ocorre. Pesquisas longitudinais mostram que o esforço físico realizado no ambiente de trabalho, chamado de atividade física ocupacional, pode aumentar os riscos de doenças e mortalidade, em contraste com os efeitos positivos da atividade física feita no tempo livre.
Esse contraste é conhecido como o “paradoxo do exercício”: enquanto os exercícios recreativos promovem a saúde, a atividade física intensa, repetitiva e prolongada no trabalho pode causar danos. Além dos efeitos negativos sobre o sistema nervoso, essa prática está ligada a um maior surgimento de problemas musculoesqueléticos e distúrbios mentais, incluindo ansiedade e depressão.
Atividade física que não traz benefícios
Estudo norueguês (Lancet Regional Health – Europe) sobre exercício ocupacional e saúde cognitiva:
- Participantes: Mais de 7 mil adultos na Noruega
- Período de acompanhamento: Cerca de 30 anos (dos 33 aos 65 anos)
- Objetivo: Avaliar a relação entre exercício ocupacional e o desenvolvimento de comprometimento cognitivo leve e demência após os 70 anos
- Funções exercidas: Mais de 300 cargos, muitos com esforço físico intenso
- Resultados: Identificação de quatro padrões de exercícios durante a vida profissional. Risco de comprometimento cognitivo e demência de 15,5% para quem teve alta atividade física no trabalho. Risco de 9% para quem teve baixa exigência física ocupacional
- Conclusão: Atividade física intensa e prolongada no ambiente laboral está associada a maiores riscos neurológicos
Estudo dinamarquês (Copenhagen Male Study) sobre atividade física e demência:
- Participantes: Mais de 4 mil homens na Dinamarca
- Período: Entre as décadas de 1970 e 2000
- Objetivo: Comparar os efeitos da exercício no lazer e no trabalho sobre a saúde cognitiva
- Resultados: Homens com alta atividade física ocupacional apresentaram 55% maior risco de desenvolver demência comparados a trabalhadores sedentários. A atividade física praticada no tempo livre mostrou-se protetora contra o desenvolvimento da doença
Os resultados destacam a necessidade de políticas públicas que vão além do simples incentivo à prática de exercícios, incluindo também a melhoria das condições laborais e a ampliação do acesso a atividades físicas recreativas, especialmente para grupos de baixa renda que enfrentam jornadas exaustivas no trabalho e dispõem de menos tempo para atividades prazerosas.