Ser idoso no Brasil é, para muitos, um fardo social silencioso. Dos mais de 32 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais, cerca de 70% recebem apenas um salário mínimo por mês.
Esse valor mal cobre despesas básicas com moradia, alimentação e medicamentos. Ainda assim, esses cidadãos são vítimas frequentes de um ciclo perverso de abusos, fraudes e negligência institucional.
Quem realmente protege os aposentados brasileiros?
É uma pergunta dolorosa, porém necessária. O Brasil possui legislações como o Estatuto da Pessoa Idosa e o Código de Defesa do Consumidor (CDC), que, em teoria, deveriam proteger essa parcela da população.
Mas na prática, as leis são ignoradas e os crimes cometidos contra idosos seguem impunes. Não há punições exemplares, não há inibição. Há apenas silêncio e desamparo.
Golpes
O Brasil vive um verdadeiro colapso ético em relação ao tratamento dado aos aposentados. Eles são vítimas de:
- Associações falsas que aplicam descontos indevidos;
- Golpistas em call centers, que induzem os idosos com discursos manipulativos;
- “Amigos” e familiares inescrupulosos, que se aproveitam da fragilidade emocional e financeira;
- Empresas que vendem serviços desnecessários ou enganosos, usando o crédito consignado como ferramenta de exploração.
Tudo isso resulta em bilhões de reais desviados anualmente. Estima-se que só em um dos maiores esquemas recentes, cerca de R$ 6 bilhões foram surrupiados, atingindo aproximadamente quatro milhões de aposentados e pensionistas. O mais revoltante? Nenhuma prisão relevante foi feita até agora.
Crédito Consignado
O crédito consignado, idealizado como alternativa segura para que aposentados pudessem acessar crédito com juros mais baixos, transformou-se em armadilha.
Muitos idosos, pressionados por familiares ou enganados por vendedores mal-intencionados, acabam endividados sem sequer entender os contratos que assinaram. São usados como avalistas involuntários da crise financeira familiar, com descontos automáticos e pouca transparência.
O papel do INSS
O Instituto Nacional do Seguro Social, que deveria ser o guardião dos recursos dos aposentados, tem falhado sistematicamente em sua missão. O INSS permitiu que descontos fossem feitos por entidades sem credibilidade, ignorou denúncias, e até hoje não garantiu o ressarcimento dos valores desviados.
Em muitos casos, os idosos esperam há meses ou anos para receber de volta valores indevidamente descontados. E isso, se tiverem força e acesso à Justiça.
Solidão como agravante social
A solidão, que atinge milhares de idosos, aumenta em 31% o risco de demência, segundo estudos. Mas o abandono social vai além da saúde mental: deixa os idosos mais vulneráveis a golpes e abusos. Sem apoio emocional ou jurídico, eles não conseguem se defender ou sequer entender o que está sendo feito contra eles.
Muitos brasileiros só lembram dos aposentados nas filas de bancos ou nas campanhas eleitorais. Fora isso, existe um abandono coletivo: políticos não os priorizam, o sistema jurídico é moroso e a sociedade naturalizou a ideia de que o idoso é um peso.
É hora de o Brasil olhar com seriedade para a dor de seus aposentados. Eles trabalharam a vida inteira, contribuíram com impostos, sustentaram famílias, construíram o país.