Nos últimos meses, um episódio envolvendo a Northeastern University, em Boston (EUA), chamou a atenção para um dilema crescente no ensino superior: o uso de Inteligência Artificial (IA) pelos professores sem o conhecimento dos alunos.
O caso da estudante Ella Stapleton, do último ano de Negócios, que exigiu a devolução de mais de 8 mil dólares em mensalidade após descobrir que seu professor utilizava o ChatGPT para preparar as aulas, levanta debates importantes sobre ética, qualidade educacional e transparência.
A Inteligência Artificial vem revolucionando vários setores, incluindo a educação. Ferramentas como o ChatGPT podem auxiliar na criação de materiais didáticos, gerar exemplos e até sugerir explicações para conteúdos complexos.
No entanto, o uso dessa tecnologia requer cuidados para que o aprendizado não seja comprometido e para que a responsabilidade acadêmica seja preservada.
O que motivou a denúncia da aluna?
Ella Stapleton notou padrões estranhos no material da disciplina: erros que não condiziam com o nível esperado, linguagem genérica e imagens com qualidade duvidosa. Além disso, encontrou comandos e referências explícitas ao ChatGPT na bibliografia e no próprio material.
Sentindo-se enganada, especialmente diante do alto custo do curso, a estudante solicitou formalmente a devolução da mensalidade paga, alegando que não recebeu o serviço educacional esperado.
Posição do professor e da universidade
O professor Rick Arrowood confirmou ter usado o ChatGPT para preparar apresentações, anotações e comentários, mas admitiu que faltou transparência com os alunos. Ele reconheceu que a prática deveria ser comunicada claramente e considera a experiência um aprendizado para outros docentes.
Por sua vez, a Northeastern University defendeu o uso ético da IA, desde que devidamente creditado e revisado. A instituição ressaltou que seus regulamentos exigem a indicação clara quando materiais gerados por IA são utilizados. Ainda assim, negou a devolução solicitada pela aluna após analisar o caso.
Implicações éticas e acadêmicas do uso não transparente da IA
O caso evidencia uma crise de confiança entre alunos e professores, levantando questões cruciais:
- Transparência: os estudantes têm o direito de saber a origem e o método de produção do conteúdo que consomem.
- Qualidade do ensino: o uso de IA pode enriquecer ou empobrecer o aprendizado, dependendo da forma como é aplicado.
- Responsabilidade do docente: a tecnologia não deve substituir o papel do professor como facilitador e expert.
- Direitos do consumidor educacional: pagar um valor elevado por um curso implica expectativas claras sobre o que será entregue.
Tradicionalmente, o foco das preocupações éticas no uso de IA era sobre o plágio e a produção de trabalhos por parte dos alunos. Agora, a balança se inverte: são os estudantes que questionam o uso da tecnologia pelos professores, exigindo transparência e respeito.