A gigante do varejo, Americanas, está passando por um processo de reestruturação após os danos à sua imagem e as dificuldades financeiras causadas por fraudes contábeis descobertas em 2023. Para se recuperar e melhorar sua rentabilidade, a empresa planeja adotar novas estratégias comerciais e operacionais, incluindo o lançamento de um novo cartão de crédito e a implementação de um programa de fidelidade.
Uma das inovações mais destacadas no plano de reestruturação da Americanas é o conceito de “store in store”. Em conversas com aproximadamente 15 parceiros, a rede pretende transformar suas lojas em pontos de venda de serviços variados.
Esses espaços, que ocuparão de 10 a 20 metros quadrados dentro das lojas físicas, terão como objetivo gerar receita adicional por meio de comissões, sem que a empresa precise investir em capital próprio.
Esse modelo de “loja dentro de loja” será implementado em cerca de 100 lojas até o fim deste ano, com potencial para atingir 700 unidades em um futuro próximo, quase metade da rede atual. A estratégia visa transformar a forma como a empresa utiliza o seu espaço físico, agregando serviços como seguros, garantia estendida e linhas de crédito bancário, entre outros.
Lançamento do novo Cartão de Crédito
Depois de mais de dois anos sem emitir cartões de crédito, a Americanas está negociando com bancos para lançar um novo cartão de crédito no segundo trimestre de 2025. Esse cartão será atrelado a um programa de fidelidade que está sendo desenvolvido pela empresa. A integração do cartão com o programa de recompensas é vista como uma maneira eficaz de fidelizar os clientes e gerar um fluxo contínuo de receitas.
A expectativa é que esse programa ajude a aumentar a frequência de compras, tanto nas lojas físicas quanto no ambiente digital. A Americanas também pretende criar uma base de dados unificada dos clientes, essencial para o sucesso do programa de fidelidade. Isso será possível após a conclusão da troca de sua plataforma de e-commerce para a Vtex, uma das maiores do setor.
Transformação digital e integração de canais
O novo plano da Americanas também busca resolver um dos maiores problemas enfrentados pela empresa no passado: a falta de integração entre seus diversos canais de venda.
Durante anos, a empresa operou com diferentes “silos” de atendimento ao cliente, que dificultaram a oferta de uma experiência de compra unificada. Agora, com o foco na eliminação desses silos, os consumidores terão a possibilidade de realizar compras tanto online quanto nas lojas físicas, com acesso a serviços em ambos os ambientes.
Redução de custos e aumento de rentabilidade
O objetivo principal dessa reestruturação é melhorar a rentabilidade da empresa. A parceria com terceiros para oferecer serviços dentro das lojas, como telefonia, crédito e seguros, permitirá à Americanas reduzir seus custos de operação e gerar novas fontes de receita. Esses serviços serão oferecidos por parceiros que pagarão à rede uma comissão por cada venda realizada.
Além disso, a introdução de novos formatos de lojas e a adaptação do portfólio de produtos são essenciais para melhorar o fluxo de clientes e as vendas por metro quadrado. A empresa, que antes operava com grandes espaços e um portfólio de produtos, agora focará em categorias mais rentáveis e com menos necessidade de grandes investimentos em estoque, como itens para casa, bomboniere, papelaria e vestuário.
Desafios e concorrência
A Americanas se encontra em um ambiente altamente competitivo, com empresas como Mercado Livre e Magazine Luiza também investindo fortemente em serviços financeiros e outras soluções que aumentem suas margens de lucro.
Porém, o formato adotado pela empresa será distinto, com um foco em serviços ligados a produtos, como acessórios de telefonia e seguros, em vez de grandes serviços logísticos ou de armazenagem.
O grande desafio da Americanas será conseguir se diferenciar nesse setor e recuperar a confiança do consumidor. A empresa reconhece que a experiência de atendimento ao cliente em suas lojas físicas tem sido um ponto crítico, e a revitalização do ambiente de vendas será crucial para sua recuperação.
O modelo de “Espaço Conecta” busca transformar esses espaços e melhorar a experiência do consumidor, oferecendo um ambiente mais dinâmico e alinhado às necessidades do público atual.
Recuperação judicial
Após a descoberta da fraude contábil bilionária, a Americanas entrou em um processo de recuperação judicial, que envolveu a reestruturação de suas dívidas e a redução de sua base de lojas. Apesar de ter fechado algumas unidades e diminuído o tamanho de outras, a empresa ainda manteve um número de lojas abertas. O foco agora está em dar resultados com base na sua própria atividade, sem depender de aportes externos.
A implementação do novo modelo de negócios e a reorganização de seus serviços são passos cruciais para garantir a sustentabilidade financeira da empresa. No entanto, a verdadeira prova de fogo será a capacidade de integrar as mudanças operacionais e tecnológicas de maneira eficaz, proporcionando uma experiência mais eficiente tanto para os clientes quanto para os parceiros comerciais.
O novo foco da Americanas é transformar seus pontos de venda em locais de múltiplos serviços e experiências, e construir uma relação mais forte com seus clientes, de modo a garantir não só a recuperação financeira, mas também um futuro mais estável e promissor para a marca.