Todos os anos, bilhões de pássaros enfrentam jornadas migratórias épicas, atravessando milhares de quilômetros em busca de climas mais favoráveis e abundância de alimento. Entre os desafios dessa viagem, atravessar vastas extensões de oceanos apresenta uma questão fascinante: como essas aves descansam durante o percurso? Pesquisas recentes têm desvendado comportamentos surpreendentes que revelam estratégias adaptativas impressionantes.
Embora muitas aves passem dias voando sem tocar o solo, algumas conseguem fazer pausas inusitadas. Um estudo realizado no Mar Mediterrâneo revelou que espécies como falcões e águias-pescadoras utilizam navios como pontos de descanso. Cerca de 13 espécies foram observadas pousando em embarcações para recuperar energia, permanecendo, em média, 42 minutos.
Apesar de esses descansos serem breves e limitados pela ausência de alimentos nos barcos, estima-se que quase 4 milhões de pássaros utilizem navios como “ilhas flutuantes” durante a migração no Mediterrâneo Central. Essa descoberta traz à tona a necessidade de avaliar como o tráfego marítimo pode impactar esses padrões migratórios.
Dormindo no ar
Para aves que não encontram locais de pouso, a solução pode ser dormir em pleno voo. Pesquisadores do Instituto Max Planck de Ornitologia identificaram que aves marinhas, como as fragatas, utilizam o chamado sono uni-hemisférico, desativando apenas metade do cérebro enquanto voam.
Esse mecanismo permite que elas descansem um hemisfério cerebral de cada vez, mantendo o outro em alerta para evitar colisões e controlar o voo. Durante esses períodos, as aves alternam entre dois tipos de sono: o de ondas lentas (SWS), que pode ocorrer em um ou ambos os hemisférios do cérebro, e o sono REM, mais breve, que dura apenas alguns segundos.
Preparação física para resistir
Além dessas estratégias, a preparação física é essencial. Pesquisadores da Universidade Austral do Chile descobriram que aves como as limícolas reduzem substâncias reativas de oxigênio e aumentam os níveis de antioxidantes no organismo antes da migração. Essa adaptação, chamada de “fisiologia de resistência”, protege as aves do estresse oxidativo causado pelo esforço extremo da viagem.
Com trajetórias que ultrapassam 10 mil quilômetros, as aves se adaptam ao longo de gerações para superar as adversidades, provando que a natureza é uma aliada poderosa em suas jornadas épicas. As descobertas não só impressionam pela engenhosidade das estratégias, mas também destacam a importância de conservar essas espécies e seus habitats para que continuem a cruzar os céus.