Nos últimos dias, uma enxurrada de denúncias abalou a imagem de uma das marcas mais conhecidas do varejo brasileiro. Ex-funcionários e franqueados de uma famosa rede de lojas de chocolate vieram a público com acusações sérias envolvendo a cultura interna da empresa e o modelo de negócio imposto aos parceiros.
Os primeiros apontam práticas consideradas “estranhas” no ambiente corporativo da fábrica, enquanto os franqueados afirmam estar amarrados por cláusulas contratuais que dificultam ou até impedem a saída da rede.
As denúncias ganharam grande repercussão nas redes sociais, especialmente após a publicação de relatos em um perfil em rede social voltado à exposição de supostos abusos da empresa.
Franqueados de rede de chocolates famosa acusam estarem presos com empresa
A empresa em questão é a Cacau Show, fundada por Alexandre Costa e presente em praticamente todas as regiões do país com milhares de unidades franqueadas. O nome, até então associado à expansão agressiva e à capilaridade no mercado de chocolates, agora figura em meio a questionamentos éticos e jurídicos.
Segundo ex-colaboradores, encontros realizados dentro da sede da companhia envolveriam ambientes escuros, velas acesas, trajes específicos e cânticos conduzidos pelo próprio CEO.
Essas práticas, embora descritas pela empresa como vivências sensoriais opcionais e simbólicas, foram comparadas por alguns participantes a rituais espiritualizados e não teriam, segundo os denunciantes, caráter facultativo.
As críticas mais contundentes, no entanto, partiram dos franqueados. Empresários que operam lojas da rede alegam viver sob um regime de controle severo.
Muitos apontam contratos com cláusulas amplas e genéricas, que deixam margem para interpretações unilaterais por parte da franqueadora. Expressões como “alinhamento com a cultura da marca” estariam sendo usadas para justificar punições e até o rompimento de contratos.
Além disso, há relatos de penalidades aplicadas por falhas mínimas, como a ausência de um item no estoque, e do recebimento de mercadorias não solicitadas, com vencimento próximo, sem possibilidade de devolução.
Franqueados dizem que são obrigados a buscar arbitragem
Outro ponto central das queixas está na cláusula de arbitragem obrigatória. Em vez de recorrer ao Judiciário, os franqueados devem buscar resolução em câmaras privadas, o que, segundo eles, torna qualquer tentativa de litígio inviável financeiramente.
Com custos iniciais que podem ultrapassar os R$ 50 mil, muitos acabam desistindo de contestar possíveis abusos.
Em contato com a coluna Mais Tendências, a Cacau Show se pronunciou sobre os pontos levantados pelos franqueados:
“A Cacau Show não mede esforços para ouvir e resolver qualquer ponto relatados por franqueados, colaboradores, parceiros e consumidores. Contamos com uma Ouvidoria gerida por empresa independente, que garante anonimato e imparcialidade. As denúncias são rigorosamente apuradas e resultam em medidas cabíveis sempre que necessário. Reforçamos nosso compromisso de continuar investigando todos os casos com seriedade, para assegurar um ambiente ético, respeitoso e transparente.
Quanto ao ‘ritual do cacau’, é uma vivência realizada para degustação do cacau 100% (Liquor de cacau, não alcoólico) diluído com água quente e especiarias (canela, cravo, cardamomo, gengibre, pimenta caiena e mel). Ele é oferecido hoje como uma experiência aos frequentadores dos nossos hotéis e já foi realizado de forma pontual na empresa e em palestras externas para os presentes vivenciarem ainda mais a história e provarem nossa principal matéria prima. Esse momento é sempre um convite, nunca uma obrigação aos participantes.
Em relação a franqueados, todos os contratos são assinados após leitura e concordância mútua, com cláusulas transparentes que detalham as responsabilidades de ambas as partes. A Cacau Show é a maior franqueadora do Brasil, e com a maioria dos parceiros com mais de sete anos de relação comercial conosco, um reflexo da solidez e transparência da nossa parceria.
Cabe destacar que, diferentemente do que foi veiculado, o contrato de franquia prevê opções claras para o encerramento da parceria a pedido do franqueado, mesmo durante sua vigência, sem incidência de multa: em uma janela no décimo segundo mês de funcionamento da loja, bem como no final do período do contrato padrão de 30 meses.
A cláusula de resolução de conflitos via arbitragem atende a legislação vigente, é uma prática comum no mercado brasileiro e de conhecimento de ambas as partes no momento da assinatura do contrato. A câmara arbitral eleita é a da ABPI, e os custos, partilhados entre as partes, são significativamente inferiores aos divulgados.”
