No coração do México tropical, entre pastos verdes divididos com precisão milimétrica, sistemas de irrigação permanentes e um rebanho moldado pela ciência genética, uma fazenda leiteira que parece mais uma peça de ficção agrícola entra no mercado. Não por crise. Não por falência. Mas por oportunidade.
Em um cenário onde o governo aposta alto na produção de leite nacional, a Tecnología Ganadera Tropical (TGT), uma das mais completas e visionárias propriedades rurais do país, pode agora mudar de mãos, e com ela, um modelo inteiro de produção sustentável e de alta eficiência.
O anúncio veio como um sussurro entre investidores, mas já provoca barulho nos bastidores do agronegócio internacional. Afinal, não é todo dia que uma fazenda de 1.562 hectares, com operação pronta, genética de elite, e alinhada a políticas públicas de incentivo, aparece no radar.
Uma história de inovação
Fundada em 2002 pelo australiano Steven Holt, a TGT mostrou que a produção leiteira em clima tropical não só era possível, como poderia ser referência mundial. Dois continentes cruzaram-se nesse experimento, a expertise australiana e o solo fértil da Península de Yucatán.
O resultado foi uma operação de excelência baseada na raça Australian Friesian Sahiwal (AFS), adaptada ao calor e à umidade, e reforçada por um sistema de manejo tecnicamente planejado.
Hoje, com 671 bovinos leiteiros e 274 cabras Boer de alta linhagem, a fazenda se tornou um laboratório vivo onde ciência, natureza e produtividade convivem em harmonia. Nada ali é improvisado: os piquetes são mais de 120, todos com fornecimento de água permanente.
As áreas de cultivo foram escolhidas com critério, assim como os 1.200 hectares que seguem o modelo agroflorestal regenerativo, com foco em biodiversidade, carbono no solo e equilíbrio climático.
Mais que leite
Quem adquire a TGT não leva apenas uma fazenda. Leva um projeto. Um modelo de agropecuária funcional, resiliente e, sobretudo, em pleno funcionamento.
A estrutura impressiona: ordenha com capacidade para 300 vacas, estrada interna, residência principal, alojamentos funcionais e logística conectada a centros urbanos, tudo pronto para dar continuidade ou escalar a operação.
Além da infraestrutura, está a cultura da gestão. A fazenda não é um amontoado de boas intenções rurais. Ela é gerida com profissionalismo, baseada em dados, resultados e práticas de governança. E isso a torna ainda mais valiosa. Porque quem assume esse tipo de ativo, assume algo que já tem tração.
A mão invisível (e visível) do Estado
O momento da venda não poderia ser mais simbólico. O governo mexicano, sob a liderança de Claudia Sheinbaum, vem reorientando sua política agroalimentar. Leite, arroz e açúcar foram definidos como produtos estratégicos.
Isso significa preços mínimos, crédito facilitado, investimentos em plantas de pasteurização e subsídios para ampliar a produção.
Essa movimentação coloca propriedades como a TGT sob os holofotes. Elas não são apenas eficientes, são desejadas. O governo quer mais produção, quer autossuficiência, quer segurança alimentar.
E isso torna cada hectare ainda mais valorizado. Afinal, em tempos de incertezas globais, um ativo produtivo, sustentável e incentivado por políticas públicas é ouro.
Um mercado que paga bem
A produção da TGT não é apenas expressiva, é rentável. Enquanto muitos produtores lutam por centavos, a fazenda atinge valores de até US$ 0,60 por litro de leite, superando a média nacional.
Isso acontece porque qualidade se paga. E ali, qualidade é rotina: genética monitorada, controle sanitário rigoroso, alimentação equilibrada e práticas de bem-estar animal.
A mira dos investidores internacionais
A venda está sendo intermediada pela agência Brown&Co em parceria com a australiana LAWD, dentro da International Ag Alliance. E o interesse internacional não é pequeno.
Investidores da Europa, Oceania e América do Norte já observam com atenção o negócio. A razão é simples: o custo de entrada para uma operação de porte semelhante em mercados como EUA ou Nova Zelândia é significativamente maior, e com menos incentivos governamentais.
Charles Whitaker, sócio-gerente da Brown&Co, foi direto: “É um modelo pronto, rentável e apoiado por políticas públicas. Isso é raro. E por isso, é valioso.”
A TGT, portanto, não é apenas uma fazenda. É um espelho de um novo tipo de agronegócio. Tropical, tecnológico, regenerativo e geopoliticamente estratégico. Ela mostra que é possível produzir muito, com inteligência, com sustentabilidade e com retorno.
