A origem curiosa do sufixo “feira” nos nomes dos dias úteis é um aspecto linguístico que remonta a um tempo em que a Igreja Católica, através de um concílio, determinou uma alteração na forma como os dias da semana seriam denominados.
O termo “feira” tem suas raízes na palavra latina “feria”, que significa “dia de descanso”. Originalmente, a palavra feria referia-se ao dia em que os cristãos deveriam se abster de trabalhar, seguindo a tradição de descanso instaurada pela Bíblia. O conceito de um “dia de descanso” estava intimamente ligado à criação do mundo, segundo as escrituras, quando Deus descansou no sétimo dia após ter criado o universo em seis dias.
Concílio de Braga (563) e a mudança dos nomes dos dias
Foi durante o Concílio de Braga, em 563, que o bispo Martinho de Braga decidiu que os nomes dos dias da semana, que até então eram baseados em deuses pacíficos, deveriam ser substituídos. O foco era afastar as referências aos deuses e fazer com que a nomenclatura fosse mais homologada com a religião cristã.
Assim, a palavra “feria” passou a ser usada para designar os dias da semana, exceto para o domingo, que já era associado ao “Dia do Senhor” – um dia santo dedicado a Deus.
“Feira” apenas nos dias úteis
Apesar de “feria” significar originalmente o dia de descanso, a associação do termo “feira” acabou se restringindo aos dias úteis da semana (segunda-feira a sexta-feira). A explicação para isso não é o fato de que, inicialmente, a mudança de nomes decretada no Concílio de Braga afetava apenas a Semana Santa, que é uma semana que antecede o Domingo de Páscoa.
Durante esse período, a Igreja localizada onde todos os cristãos deveriam descansar. Com o tempo, esse conceito se estendeu aos dias comuns da semana, mas, curiosamente, o uso de “feira” ficou associado somente aos dias úteis e não ao sábado e ao domingo.
Exceção do sábado e domingo
Uma curiosidade aqui é que, enquanto os portugueses e suas colônias adotaram essa nomenclatura nos dias úteis, as línguas de origem latina, como o espanhol, o francês e o italiano, continuaram a referir-se aos dias da semana com nomes derivados de deuses antigos (por exemplo, segunda-feira em espanhol é “lunes”, derivado da Lua, e terça-feira é “martes”, de Marte, o deus da guerra).
Já no português, as discussões discutidas com o sábado e o domingo, que passaram a ser designadas como “sexta-feira” e “primeira feira”, devido ao “Dies Dominicus” (o dia do Senhor) e ao “Shabat” judaico, que indica o sábado como o dia de descanso.
Adoção do calendário de sete dias
O calendário ocidental, em sua forma atual, mudou a semana de sete dias, uma estrutura que foi consolidada durante o império romano. Em 321, o imperador Constantino declarou que o domingo deveria ser o primeiro dia da semana, o que reforçava a ideia de descanso no sétimo dia, que se concretizaria no sábado. Até então, os romanos utilizavam um sistema de semanas com oito dias, mas a Bíblia já estabelecia o modelo de sete dias como uma norma.
A partir de então, a divisão da semana em sete dias começou a ser mais amplamente aceita, não apenas pelo Cristianismo, mas também pelos babilônios, que já dividiam seus calendários dessa maneira. Esse formato foi solidificado em diversas culturas e religiões, tornando-se uma convenção universal.
É interessante notar que, enquanto a Igreja Católica e os impérios se esforçavam para mudar a nomenclatura dos dias da semana em diversas línguas, o português sofria uma ameaça: só incorporou o “feira” nos dias úteis. Essa escolha reflete a influência que a Igreja exerceu sobre a sociedade portuguesa da época e sua tentativa de separar a religiosidade do paganismo, ao mesmo tempo em que preservava uma estrutura que fosse compreendida e prática para a fidelidade.
O Brasil, por ser uma colônia portuguesa, herdou essa convenção de nomenclatura. Mesmo com a secularização de muitos aspectos da vida cotidiana, os nomes dos dias da semana em português continuaram a terminar em “feira”, o que cria uma distinção interessante entre as línguas latinas.
Essa explicação permanece até hoje, como parte de nossa herança cultural e religiosa, mostrando como os eventos históricos e decisões eclesiásticas moldaram profundamente a forma como nos relacionamos com o tempo.
Portanto, o fato de quase todos os dias da semana terminarem em “feira” é uma consequência de uma decisão histórica, religiosa e cultural que se solidificou ao longo dos séculos. O termo “feira”, que inicialmente indicava um dia de descanso, acabou sendo aplicado aos dias úteis devido a uma combinação de mudanças litúrgicas e culturais.