O que começou como um atrativo gastronômico local virou fenômeno nas redes sociais. As generosas porções de batata frita vendidas em frente à estação de trem de Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio, conquistaram o Brasil graças a vídeos no TikTok.
O sabor, o preço acessível e o carisma do comerciante Ademar de Barros Moreira, que há mais de três décadas mantém sua barraca no mesmo ponto, transformaram o lanche em símbolo do bairro.
Em 2022, o reconhecimento veio oficialmente: a iguaria foi tombada como Patrimônio Cultural Material do Estado do Rio de Janeiro. Mas por trás da batata famosa está um bairro com raízes profundas na história urbana do país.
Batata de Marechal: história de Marechal Hermes é surpreendente
Pouco conhecido fora do Rio, Marechal Hermes tem origem singular. Foi concebido no início do século XX como um dos primeiros bairros planejados do Brasil.
A proposta era ambiciosa: erguer uma comunidade moderna, voltada para trabalhadores do funcionalismo público, ao redor de uma estratégica linha de trem.
O projeto foi idealizado pelo engenheiro Palmyro Serra Pulcheiro, que desenhou uma planta com ruas largas, arborizadas e prédios públicos — entre eles escolas, bibliotecas, hospitais e praças — compondo um espaço funcional e organizado.
A construção começou em 1911 e dois anos depois, em 1º de maio de 1913, o bairro foi inaugurado com pompa na presença do então presidente Hermes da Fonseca, que emprestou seu nome ao lugar.
A arquitetura predominante, de traços modernistas, refletia o desejo de progresso. Contudo, a execução do projeto enfrentou entraves. Críticas da imprensa e da sociedade recaiam sobre os custos elevados e a baixa oferta de moradias populares.
Dos mais de mil edifícios planejados, apenas uma fração foi concluída a tempo, e o plano de habitação operária ficou em segundo plano.
Marechal Hermes se tornou o bairro que é hoje durante governo Getúlio Vargas
Mesmo assim, Marechal Hermes ganhou vida. Na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, o projeto foi retomado, com ajustes que moldaram o bairro como é conhecido hoje.
Com o tempo, o charme da estação ferroviária, os jardins desenhados por Roberto Burle Marx e a atmosfera de bairro operário resistiram à expansão urbana e à negligência do poder público.
Hoje, é a batata que reacende o interesse por Marechal Hermes. O que era tradição local virou ponto turístico informal, levando brasileiros a redescobrir um bairro que, assim como seu petisco mais famoso, tem sabor de história.
