A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), teria procurado o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, para pedir apoio na divulgação de informações corretas sobre o caso do INSS, segundo o Portal Metrópoles.
O pedido teria ocorrido na esteira da repercussão provocada por um vídeo viral e com informações incorretas do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que alegava um rombo bilionário no INSS envolvendo empréstimos consignados.
A fala do deputado, publicada em vídeo nas redes sociais na semana passada, ultrapassou a marca de 100 milhões de visualizações e apresentou dados muito diferentes dos que foram divulgados pela Polícia Federal.
No entanto, segundo nota da Febraban, durante a reunião realizada com líderes de bancos na última quinta-feira (8), foi Isaac quem tomou a iniciativa de esclarecer os dados, negando qualquer solicitação formal por parte da ministra.
Gleisi pede ajuda para divulgar dados corretos após fala de Nikolas
A origem da polêmica está ligada a uma operação da Polícia Federal que revelou um esquema de descontos indevidos nos benefícios de aposentados e pensionistas do INSS. A fraude consistia na cobrança de mensalidades de associações e sindicatos, feitas sem autorização dos beneficiários.
Essas entidades, muitas vezes fictícias, criadas apenas para isso, registravam aposentados como associados, sem autorização desses idosos, e começavam a descontar mensalidades diretamente dos seus aposentos.
A Controladoria-Geral da União (CGU) estima que o total desviado chegue a R$ 6,3 bilhões. O golpe teria sido iniciado em 2016, ainda no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), mas se expandiu significativamente a partir de 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado político de Nikolas Ferreira.
Agora, no vídeo publicado, o deputado bolsonarista afirma que a fraude atinge o falso valor de R$ 90 bilhões, atribuindo essa quantia à suposta operação com empréstimos consignados, o que gerou grande confusão na opinião pública.
No entanto, esse montante corresponde ao volume total de consignados contratados por aposentados e pensionistas ao longo de 2023, e não ao valor desviado por fraudes.
Ou seja, os valores citados por Nikolas não são verdadeiros e não tem relação com o caso dos desvios indevidos. A PF deixou claro que a investigação atual concentra-se apenas nos descontos associativos indevidos, não em empréstimos fraudulentos.
Assim, o Metrópoles apontou que, diante da disseminação de informações erradas, Gleisi procurou o presidente da Febraban e solicitou que o órgão ajudasse a esclarecer os dados ao público e à imprensa.
Febraban diz que Gleisi não fez pedido, e governo trabalha para ressarcir aposentados
A entidade, por sua vez, emitiu nota oficial afirmando que a ministra Gleisi não fez pedido direto, e que foi o próprio presidente da Febraban quem tomou a iniciativa de esclarecer os fatos durante a reunião com representantes de bancos e lideranças institucionais.
Com a descoberta do esquema, o governo federal passou a atuar em diversas frentes para conter os danos e buscar justiça para os segurados prejudicados.
Entre as medidas adotadas, destacam-se a suspensão imediata dos descontos de mensalidades de entidades suspeitas e o bloqueio de novos repasses desse tipo.
Além disso, está em fase final a implementação de um plano de ressarcimento, liderado pela AGU com apoio da Dataprev, que visa restituir os valores aos aposentados e pensionistas afetados, com garantia de acompanhamento por órgãos de controle como o Ministério Público Federal e o Conselho Nacional de Justiça.
O governo Lula, da qual Gleisi faz parte, e que historicamente defende o acesso ao crédito consignado como política de inclusão financeira, enfrenta agora o desafio de proteger os beneficiários sem abandonar essa bandeira.
Ao mesmo tempo, busca evitar que a desinformação se transforme em arma política, como no caso da fala de Nikolas, que turvou o entendimento público sobre a gravidade e a real natureza da fraude.
Vale lembrar que o deputado bolsonarista já havia divulgado um vídeo parecido no início do ano insinuando que o governo podia taxar o PIX, o que foi prontamente desmentido na época, mas que muitos ainda acreditam, gerando uma situação que causou prejuízo a economia nacional.