Em um cenário de crise habitacional crescente, cada vez mais britânicos estão trocando imóveis convencionais por barcos como alternativa de moradia.
O fenômeno, que vem ganhando força principalmente nas últimas duas décadas, reflete um movimento social e econômico que reconfigura a ideia de lar em um dos países com os imóveis mais caros da Europa.
Morar em barcos viram uma opção no Reino Unido
Dados recentes indicam que mais de 30 mil barcos estão licenciados para navegar pelas hidrovias do Reino Unido, muitos deles usados como residência principal.
Em Londres, esse estilo de vida tem atraído especialmente jovens adultos entre 25 e 34 anos, com crescimento expressivo desde o início dos anos 2010.
Embora não existam números oficiais sobre quantas dessas embarcações são utilizadas para morar, estimativas de veículos como Sky News e Boats.com apontam que ao menos 15 mil pessoas vivem atualmente a bordo em caráter permanente — número que não para de subir.
A principal justificativa para essa escolha é econômica. Enquanto o valor médio de uma casa no Reino Unido supera as 250 mil libras, o custo de um barco simples, mas funcional, pode ficar em torno de 50 mil libras.
Ainda que existam despesas fixas, como seguros, combustível e licenças de navegação — que podem totalizar cerca de 4,5 mil libras por ano — o montante continua sendo, para muitos, mais acessível do que comprar ou alugar uma casa, especialmente em cidades como Londres, onde os preços chegam a ultrapassar 600 mil libras por uma moradia modesta.
Além da economia, viver em um barco proporciona liberdade, dizem moradores
Mas não se trata apenas de economia. Muitos moradores de barcos no Reino Unido apontam um desejo por liberdade e conexão com a natureza como parte da motivação.
Elizabeth Earle, que trocou um apartamento tradicional por uma barca centenária, relata que o estilo de vida flutuante exige adaptações — como a falta de chuveiro nos primeiros meses e o frio constante — mas oferece recompensas únicas, como o silêncio, a mobilidade e a sensação de autonomia.
Do lado institucional, o Canal and River Trust reconhece a popularidade crescente dessa forma de habitação. A entidade destaca que o aumento da população flutuante trouxe vitalidade aos canais, mas também desafios na gestão e no equilíbrio do uso dos recursos públicos.
Mudanças em regras de navegação e licenciamento que devem ser anunciadas em breve para a regulamentação desse tipo de atividade podem impactar diretamente quem depende dessas embarcações como residência.
Enquanto isso, morar em um barco sobre as águas deixa de ser apenas uma alternativa excêntrica para se tornar uma resposta concreta à crise de moradia no Reino Unido.