O tema dos descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas vem gerando uma grande repercussão na sociedade brasileira.
Desde a deflagração da Operação Sem Desconto, que investiga fraudes envolvendo associações responsáveis por essas cobranças, o governo e a Justiça têm buscado soluções para ressarcir os prejudicados. No entanto, o cenário envolve várias questões legais e fiscais que estão longe de uma solução definitiva.
As fraudes e os descontos indevidos
O foco da Operação Sem Desconto são as cobranças feitas por algumas associações de aposentados e pensionistas, que estariam realizando descontos não autorizados em suas aposentadorias e pensões.
As investigações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) indicam que essas cobranças foram feitas de forma irregular, sem a devida permissão dos beneficiários. As vítimas, em sua maioria, não estavam cientes de que estavam pagando por esses serviços e, agora, buscam o ressarcimento dos valores cobrados indevidamente.
Decisão da Justiça Estadual
No âmbito da Justiça Estadual, as decisões têm sido favoráveis aos aposentados e pensionistas. Desde janeiro de 2025, mais de 1.000 decisões relacionadas a esses descontos irregulares foram proferidas no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
A tendência nas sentenças tem sido a restituição dos valores cobrados, com algumas decisões determinando a devolução em dobro do montante e ainda impondo indenizações por danos morais às associações envolvidas.
Exemplos claros dessas condenações incluem a União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos (Unaspub) e a Associação dos Aposentados e Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec). Em ambas, os tribunais determinaram a devolução dos valores cobrados de maneira indevida, com aplicação de multas e indenizações.
Papel do INSS nas investigações
Enquanto as associações são responsabilizadas diretamente pelos descontos irregulares, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também está sendo investigado quanto à sua responsabilidade.
A questão é se o INSS pode ser responsabilizado por permitir que esses descontos fossem feitos de maneira não autorizada. Recentemente, o Tribunal Regional Federal da 6ª Região decidiu que o INSS tem o dever de garantir a regularidade dos descontos, o que abriu a possibilidade de sua responsabilização.
A análise dessa questão pelo Tribunal Nacional de Uniformização (TNU) será fundamental para definir se o INSS deve arcar com parte das condenações. Caso o INSS seja responsabilizado, isso poderá representar um impacto fiscal para o governo, com possíveis custos elevados.
Desafio fiscal para o Governo
O governo federal, por meio da equipe econômica, está profundamente preocupado com o impacto fiscal de toda essa situação. A devolução dos valores cobrados de forma indevida pode representar um gasto significativo, que precisa ser contabilizado no orçamento.
A estimativa inicial é que os descontos totais investigados somam R$ 6,3 bilhões, um valor substancial para qualquer planejamento orçamentário.
Neste cenário, o governo está buscando uma forma de implementar o ressarcimento sem que isso gere um impacto negativo nas contas públicas. Em reunião realizada no Palácio do Planalto, as autoridades discutiram o tema com urgência, buscando encontrar soluções rápidas para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fosse exposto a uma crise prolongada.
Planejamento da devolução
Até o momento, o governo não apresentou um plano definitivo para realizar a devolução dos valores, mas trabalha para definir a responsabilidade de cada parte envolvida, incluindo o INSS, as associações e o próprio Estado.
Um ponto importante é a separação dos beneficiários que sofreram descontos indevidos daqueles que, eventualmente, autorizaram esses pagamentos.
O governo também discute se será necessário incluir esses ressarcimentos na previsão de gastos para o ano em curso. Caso a devolução seja necessária, uma das opções seria remanejar recursos de outras áreas do governo ou até mesmo do orçamento do INSS, o que, no entanto, enfrenta críticas de especialistas devido à subestimação do orçamento previdenciário.
Precedente judicial e suas implicações
A decisão do Tribunal Nacional de Uniformização (TNU), que deve ser julgada em breve, será um marco importante. A corte definirá se o INSS deve ser responsabilizado civilmente pelos descontos indevidos, algo que teria grandes implicações para a gestão fiscal do órgão.
Se o INSS for responsabilizado por danos morais, como sugerido por algumas decisões da Justiça Estadual, o custo para os cofres públicos pode aumentar ainda mais, criando um dilema fiscal para o governo.
Impacto político e a crise no Governo
O caso gerou uma grande repercussão política e, consequentemente, afetou a imagem do governo federal. A crise resultou na queda de figuras importantes, como o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.
Para evitar mais danos políticos, o governo busca uma solução rápida, tanto do ponto de vista jurídico quanto fiscal.
Por fim, o grande desafio do governo é encontrar um equilíbrio entre a necessidade de devolver os valores aos aposentados e pensionistas, e a responsabilidade fiscal que exige cautela no planejamento orçamentário. A situação exige decisões rápidas e eficazes, mas que não comprometam as finanças públicas de forma irreparável.