Nos dias de hoje, viver em ritmo acelerado virou norma. Logo ao acordar, já somos tomados pela pressão de cumprir uma agenda cheia de compromissos. As refeições são feitas às pressas, quase sempre interrompidas por mensagens, chamadas ou notificações, enquanto a sensação de estar sempre atrasado se tornou parte da rotina para grande parte das pessoas.
Ao final do dia, mesmo com uma lista de tarefas aparentemente cumprida, é comum que o cansaço venha acompanhado de uma impressão de improdutividade. Realizamos muitas atividades, mas com a percepção de que nada foi, de fato, concluído. Para o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, esse aparente paradoxo é um espelho da sociedade atual e da forma como lidamos com o tempo e o trabalho.
Sociedade do Cansaço
No livro A Sociedade do Cansaço, o filósofo Byung-Chul Han descreve a era atual como de “hiperatividade passiva”, marcada por excesso de estímulos e pouca reflexão. Para ele, pensar é a atividade mais ativa — e a mais ausente em tempos acelerados.
Han aponta que a lógica da produtividade ultrapassou o ambiente de trabalho e invadiu todas as áreas da vida, inclusive o lazer. A hiperconectividade tornou comum a exigência de estar disponível o tempo todo, realidade vivida intensamente no Brasil.
Segundo o autor, até relações pessoais e redes sociais foram tomadas pela busca por desempenho. Assim, nos tornamos “sujeitos do desempenho”, pressionados a produzir sem pausa — o que contribui, segundo ele, para o avanço de transtornos como depressão, ansiedade e burnout.
Como combater essa condição?
Profissionais da área da saúde mental confirmam esse panorama. A neurologista Dalva Poyares, da Associação Brasileira de Medicina do Sono, destaca que a população tem enfrentado jornadas excessivas de trabalho e noites mal dormidas. Um estudo do Ibope confirma a percepção: 98% dos brasileiros relatam cansaço frequente, e 61% afirmam estar exaustos.
Nesse contexto, reduzir o ritmo se torna uma urgência coletiva. Como observa o filósofo Byung-Chul Han, essa mudança não pode ser encarada apenas como responsabilidade individual. Romper com o atual modelo exige transformações estruturais — sociais, culturais e políticas — que permitam resgatar a atenção, o tempo e, principalmente, a humanidade perdida.