Um levantamento nacional realizado por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV/CPDOC), com apoio da Roche Farma Brasil, revelou um dado preocupante: 29% dos pacientes com doenças oculares graves abandonaram o tratamento em algum momento. A pesquisa entrevistou 155 pessoas diagnosticadas com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e edema macular diabético (EMD), duas das principais causas de cegueira em indivíduos com mais de 55 anos.
Entre os participantes, três em cada cinco tinham 60 anos ou mais, e aproximadamente um terço realizava o tratamento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Os dados reforçam o alerta promovido pelo Abril Marrom, mês dedicado à conscientização sobre a importância do cuidado com a saúde dos olhos.
Abandono de tratamentos oculares
Mesmo com 67% dos pacientes relatando que foram bem orientados na primeira consulta, menos da metade sabia que o tratamento envolvia injeções intravítreas — aplicadas diretamente no olho. Esse procedimento, considerado o mais eficaz atualmente, costuma ser feito mensalmente e exige constância, além de estrutura adequada, o que representa um desafio para muitos.
Os impactos das doenças também se refletem fora do consultório. Mais de 60% dos entrevistados apontaram dificuldades financeiras durante o tratamento ocular. Outros 47% mencionaram a necessidade de apoio psicológico, e 19% recorreram a reabilitação ou tecnologias assistivas devido à perda de visão.
Apontamentos
Em entrevista à Veja, a oftalmologista Patrícia Kakizaki explicou que as doenças afetam a mácula — região central da retina responsável pela nitidez da visão —, o que compromete atividades rotineiras como ler, dirigir ou fazer compras. A projeção é de que o número de casos no Brasil passe de 1,4 milhão para 1,7 milhão nos próximos cinco anos, impulsionado pelo crescimento dos diagnósticos de diabetes.
Também ouvida pela revista, Maria Antonieta Leopoldi, vice-presidente da Retina Brasil, afirmou que o abandono do tratamento não se deve apenas à falta de informação, mas também a dificuldades logísticas e financeiras. Para ela, o cenário exige políticas públicas mais eficazes e ações de conscientização voltadas à saúde ocular.