O litoral cearense, com seus 570 km de extensão, é um dos maiores atrativos do estado, impulsionando a economia local por meio da pesca, turismo e produção de energia.
Contudo, o cenário que se desenha para essas praias é alarmante: metade do litoral está correndo risco de desaparecer devido à erosão costeira, um problema que afeta diversas cidades, com consequências devastadoras para o meio ambiente e a economia local.
Em um contexto de mudanças climáticas e crescente degradação ambiental, o estudo inédito sobre os processos erosivos da costa cearense tem levantado bandeiras de alerta.
Plano de Ações de Contingência para Processos de Erosão Costeira do Ceará (PCEC)
Na última sexta-feira (14), durante a 5ª Conferência Estadual do Meio Ambiente, foi lançado o Plano de Ações de Contingência para Processos de Erosão Costeira do Ceará (PCEC), um estudo pioneiro no Brasil. Este documento é considerado um marco, pois, pela primeira vez, foi realizada uma análise detalhada e abrangente sobre o avanço do mar e seus impactos nas praias cearenses.
O PCEC foi desenvolvido pela Secretaria de Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema) em parceria com o Projeto Planejamento Espacial Ambiental (PEA) e o Programa Cientista Chefe Meio Ambiente (CCMA/Sema/Funcap).
Ele mapeia a situação das praias e orienta as ações necessárias para enfrentar e mitigar os danos causados pela erosão costeira. A elaboração do plano, que contou com técnicas avançadas de sensoriamento remoto para monitoramento das mudanças na linha de costa entre 2016 e 2024, identificou que cerca de 47,5% do litoral está vulnerável a processos erosivos.
O que o estudo revela?
O estudo apontou que, entre os 570 km de litoral, 47,5% já estão sendo afetados por processos erosivos, sendo que 16 praias estão entre as mais críticas. As áreas mais afetadas estão concentradas no Litoral Oeste do estado, que apresenta uma quantidade maior de pontos com erosão crítica, ou seja, com perdas superiores a 1 metro por ano.
Esse avanço do mar está comprometendo não só a beleza natural das praias, mas também gerando impactos diretos em atividades econômicas essenciais para a região.
Os tipos de erosão identificados no mapeamento foram classificados conforme a intensidade da perda de área:
- Erosão Crítica: 215 pontos, com perdas superiores a 1 metro por ano.
- Erosão: 48 pontos, com perdas entre 0,5 e 1 metro por ano.
- Estabilidade: 91 pontos, com taxas de erosão abaixo de 0,5 metros por ano ou estáveis.
- Progradação: 199 pontos, com ganhos de terra superiores a 0,5 metros por ano.
Áreas em maior risco
Dentre as áreas mais ameaçadas, destacam-se algumas praias que já são conhecidas por seu turismo, mas que enfrentam sérios riscos de destruição:
Núcleos de erosão crítica (intervenção urgente):
- Praias de Picos e Peroba, em Icapuí
- Praia de Canoé/Canto da Barra, em Fortim
- Prainha do Canto Verde, em Beberibe
- Praia do Iguape, em Aquiraz
- Praia do Icaraí e Praia da Tabuba, em Caucaia
- Praia da Taíba, em São Gonçalo do Amarante
- Praia da Baleia, em Itapipoca
Esses núcleos demandam ações imediatas, pois as perdas já são visíveis ou estão prestes a ocorrer, colocando em risco a infraestrutura, o turismo e a economia local.
Núcleos de atenção (risco potencial):
- Praia do Pontal do Maceió, em Fortim
- Praia do Balbino/Caponga, em Cascavel
- Praia da Lagoinha, em Paraipaba
- Praia do Serrote, em Jijoca de Jericoacoara
- Praia de Tatajuba, em Camocim
Essas áreas ainda apresentam processos erosivos iniciais, mas têm potencial para causarem danos graves no futuro, o que exige monitoramento contínuo e ações preventivas.
Consequências e medidas necessárias
A erosão costeira no Ceará não é um problema isolado. Ela é resultado de uma combinação de fatores naturais e humanos, incluindo o avanço do nível do mar, a degradação ambiental, o turismo desordenado e a intervenção inadequada no meio ambiente.
Se nada for feito, até 2040, algumas praias do estado podem perder até 10 metros de faixa de areia, o que pode afetar drasticamente não só a biodiversidade local, mas também as comunidades que dependem diretamente dessas áreas para sua sobrevivência.
A implementação de medidas de contenção e preservação ambiental torna-se urgente. Isso inclui o fortalecimento das ações de gestão costeira, a recuperação de áreas degradadas, a promoção de práticas de turismo sustentável, além de um planejamento urbano integrado que respeite os limites naturais e minimize os impactos da urbanização sobre as praias.