No Brasil, os jogos de aposta ultrapassaram os limites do lazer e se tornaram motivo de alerta para especialistas em saúde pública. De acordo com a terceira edição do Levantamento Nacional sobre Álcool e Drogas (Lenad III), conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma parcela significativa da população com 14 anos ou mais já apresenta sinais de envolvimento problemático com esse tipo de prática.
Os dados apontam que milhões de brasileiros têm experimentado impactos negativos nas esferas emocional, familiar, financeira ou profissional em decorrência do hábito de apostar. A disseminação dos jogos de azar on-line e a facilidade de acesso por meio de dispositivos móveis contribuem para o agravamento do cenário, segundo os especialistas.
Apostas no Brasil
Divulgados no início de abril durante um evento na Unifesp, os dados do Lenad III foram obtidos a partir de entrevistas com mais de 16 mil pessoas em 349 municípios de todas as regiões do país. O estudo avaliou o consumo de álcool, tabaco, medicamentos e drogas ilícitas, e também incluiu um módulo específico sobre o comportamento de apostas, utilizando o Índice de Gravidade do Jogo Problemático (PGSI) como instrumento de avaliação.
As apostas on-line já se consolidaram como a segunda modalidade preferida pelos brasileiros, ficando atrás apenas das loterias tradicionais, como a Mega-Sena e a Quina. Para especialistas, o fácil acesso por celulares, a sensação de recompensa imediata e a falsa impressão de controle tornam essas plataformas especialmente nocivas, principalmente entre adolescentes.
Vulnerabilidades
A vulnerabilidade social também aparece como um fator de risco importante no comportamento. Segundo o Lenad III, mais da metade dos brasileiros que ganham até um salário-mínimo apresenta algum nível de envolvimento com apostas de risco ou problemáticas — uma taxa três vezes superior à observada entre aqueles com renda superior a dois salários. No recorte regional, o Sul do país concentra a maior quantidade de apostadores, mas é no Nordeste que se verifica a maior proporção de casos com indícios de dependência.
Diante desses dados, os pesquisadores defendem medidas urgentes, como a regulamentação da publicidade do setor, a restrição mais rigorosa ao acesso de menores de idade e a criação de políticas públicas voltadas tanto à prevenção quanto ao tratamento do transtorno do jogo.