Um dos grandes problemas financeiros no dia a dia das organizações se refere à conseguir administrar o fluxo de caixa e indicadores financeiros para que seja possível pagar todas as contas do dia a dia e também de um possível investimento a ser realizado pela organização.
É muito comum vermos empresas passando por um período de estresse financeiro por falta de caixa, e que podem ser acarretados por diversos fatores, como inadimplência, gastos e perdas não previstas, prejuízos recorrentes, prazos de pagamento e recebimento.
Dentre esses cenários as empresas veem a necessidade de ter um capital de giro para poderem passar por esses períodos com mais facilidade, ou conseguir expandir seus negócios, e poder esperar o negócio ganhar força para poder se rentabilizar por conta própria.
Dito isso, chega o momento de definir e estabelecer qual é o valor necessário de Capital de Giro para a empresa poder suportar esse período de estresse ou bancar o período de maturação do novo negócio ou investimento.
E é nesse ponto que muitas empresas erram ou travam, e acabam não conseguindo capital de giro necessário para o momento.
Capital de Giro por essência é a diferença entre os recursos disponíveis e a soma de todas as obrigações das organizações em determinado período. Pode parecer simples, mas na prática acaba por ser mais complexo que isso por vários fatores, como o volume de vendas, inadimplência, prazos negociados de pagamento e recebimento.
Para se levantar de forma mais assertiva possível, qual é a real necessidade de capital de giro da empresa é preciso ter um entendimento grande do negócio, de seus custos reais de produção ou prestação de serviço, as despesas totais da organização, as saídas de caixa já existente, as receitas e perfil dos clientes existentes. É importante ter um conhecimento de macroeconômico de mercado, e principalmente do segmento que está inserido o negócio.
Existem algumas maneiras de se elaborar uma ferramenta para análise de necessidade de capital de giro, e aqui vamos utilizar a ferramenta do Fluxo de Caixa Projetado, que já falamos em postagens anteriores aqui.
Para exemplificarmos melhor vamos dividir a análise de capital de giro em duas formas, uma sobre a perspectiva de um negócio já em funcionamento, e outra da abertura de um novo negócio.
Análise da necessidade de capital de giro de uma empresa já em funcionamento
Vamos imaginar o cenário que a empresa já está estabelecida no mercado tendo resultado econômico positivo já a algum tempo e vem tendo crescimento nas vendas mês após o outro, porém ela não vem conseguindo ter geração de caixa positiva, e após análise prévia foi identificado a necessidade de ter um capital de giro para suportar financeiramente esse período.
O primeiro passo que precisamos identificar neste exemplo é o porquê a empresa vem tendo resultado econômico positivo já a algum tempo e não está conseguindo ter geração de caixa positiva.
Aqui encontra-se um dos pontos mais importantes para conseguir ter uma assertividade melhor no levantamento do Capital de Giro, pois o problema para a falta dessa geração de caixa pode ser uma inadimplência que vem raptando parte do resultado da empresa, pode ser que o crescimento vem também em decorrência de uma mudança do perfil de clientes que passaram a comprar com prazo mais longo a partir de certo momento, e assim o resultado da empresa pode estar sendo represado pelo contas a receber corrente. Podemos entender que para suportar esse crescimento de vendas é necessário ter um aumento significativo de estoque para não perder vendas e com isso estamos aumentando nosso capital parado em estoque, ou pode ser apenas um descasamento entre o prazo médio de recebimento e pagamento.
Vamos considerar neste cenário que o problema identificado da empresa é a mudança de perfil do consumidor, pois passamos a vender também para consumidor final no varejo, e com isso esperávamos obter melhores resultados por conseguir vender a preços melhores, porém junto com os preços melhores veio a necessidade de conceder mais prazo para o cliente poder efetuar a compra.
Isso acarreta em uma maior necessidade de capital de giro em um primeiro momento em virtude do tempo que vamos receber do cliente esse recurso, que antes girava entre 30 e 45 dias de média, e hoje passa a ser de 60 a 75 dias em média, ou seja esse resultado melhor que a organização está tendo nas vendas vai demorar mais a chegar nas contas da empresa, mas seus custos e gastos com fornecedores seguem se mantendo os mesmo.
Neste cenário é preciso fazer um fluxo de caixa projetado, onde devemos contemplar esse tempo de recebimento. Se uma empresa vem faturando R$ 100.000,00 mês, possuí custos diretos de 70%, com um prazo médio de pagamento de 30 dias e tem um aumento nas vendas de 20% nos próximos 4 meses, a um prazo médio de recebimento de 60 dias, ele vai sentir apenas com esse movimento um aumento na necessidade de capital de giro de neste período de R$ 16.760,00
Veja os quadros abaixo:
Quadro 1 – Aumento nas Vendas e nos Resultados da Empresa
Mês 0
Mês 1
Mês 2
Mês 3
Mês 4
Vendas
100.000
120.000
144.000
172.800
207.360
Custos (70%)
-70.000
-84.000
-100.800
-120.960
-145.152
Despesas
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
Resultado Econômico
5.000
11.000
18.200
26.840
37.208
Quadro 2 – Projeção de Fluxo de Caixa e Necessidade de Capital de Giro
Para analisar quando vamos receber as vendas, consideramos um prazo médio de 60 dias, já para as despesas e custos consideramos um prazo médio de pagamento de 30 dias.
Mês 0
Mês 1
Mês 2
Mês 3
Mês 4
Recebimento das Vendas
100.000
100.000
100.000
120.000
144.000
Pagamento dos Custos
-70.000
-70.000
-84.000
-100.800
-120.960
Pagamento das Despesas
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
Geração de Caixa
5.000
5.000
-9.000
-5.800
-1.960
Necessidade de Capital de Giro
-9.000
-14.800
-16.760
Análise da necessidade de capital de giro de uma nova empresa
Vamos imaginar o cenário da mesma empresa, porém agora ela começando a suas operações do zero, e embora os sócios já tenham um capital levantado para fazer o negócio girar com os investimentos necessários e maquinário, ambos não tem certeza de qual a necessidade de capital de giro que a empresa irá precisar para poder começar a funcionar até que ela seja capaz de se manter por conta própria.
Dito isto o primeiro passo é conseguirmos projetar um movimento nas vendas da empresa nos primeiros meses de funcionamento até o momento em que ela comece a gerar caixa positivo na projeção e assim sabermos qual é o montante total de capital de giro que irá ser necessário para operacionalizar o negócio de forma planejada.
Como a empresa ainda é nova e não possuí um histórico de vendas, custos e despesas bem apurado para serem utilizados como base nas projeções, é necessário fazer um estudo de mercado para levantar quais serão os produtos ou serviços oferecidos para o cliente, entender e nichar qual o perfil dos possíveis consumidores, entender o mercado que está começando o negócio para verificar qual a fatia do mercado é possível ser absorvida nos primeiros anos de empresa.
É preciso levantar com possíveis parceiros e fornecedores os custos diretos da empresa, levantar os custos com pessoal e dimensionar o tamanho da equipe necessária, custos de instalação etc.
E neste cenário esses levantamentos e projeções são o ponto mais crítico exatamente pelo nível de incerteza que é envolvido, pois por se tratar de um novo negócio existes vários fatores externos que impactam diretamente no resultado da empresa, e que não estão sob gestão dos empresários. Portando é prudente fazer projeções de cenários pessimista, realista e otimista das projeções para tentar reduzir um pouco essa incerteza.
Vamos considerar neste cenário que o levantamento das despesas fixas da empresa vão girar em torno de R$ 25.000,00 por mês, e que o levantamento dos custos diretos vão assim como no modelo anterior ser de 70% das vendas, e que a empresa inicia suas operações com um faturamento de R$ 30.000,00 no primeiro mês, com um prazo médio de pagamento de 30 dias e tem um aumento nas vendas de 50% nos próximos 4 meses, a um prazo médio de recebimento também de 30 dias, ele vai sentir apenas com esse movimento um aumento na necessidade de capital de giro de neste período de R$ 57.250,00
Veja os quadros abaixo:
Quadro 3 – Aumento nas Vendas e nos Resultados da Empresa
Mês 0
Mês 1
Mês 2
Mês 3
Mês 4
Vendas
30.000
45.000
67.500
101.250
151.875
Custos (70%)
-21.000
-31.500
-47.250
-70.875
-106.313
Despesas
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
Resultado Econômico
-16.000
-11.500
-4.750
5.375
20.563
Quadro 4 – Projeção de Fluxo de Caixa e Necessidade de Capital de Giro
Para analisar quando vamos receber as vendas, consideramos um prazo médio de 30 dias, já para as despesas e custos consideramos um prazo médio de pagamento de 30 dias.
Mês 0
Mês 1
Mês 2
Mês 3
Mês 4
Recebimento das Vendas
0
30.000
45.000
67.500
101.250
Pagamento dos Custos
0
-21.000
-31.500
-47.250
-70.875
Pagamento das Despesas
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
-25.000
Geração de Caixa
-25.000
-16.000
-11.500
-4.750
5.375
Necessidade de Capital de Giro
-25.000
-41.000
-52.500
-57.250
-51.875
Portanto podemos entender que fazer uma analise de capital de giro envolve inúmeras variáveis, onde algumas delas são controladas pela a própria organização, e algumas estão totalmente fora da gestão dos empresários. Além disso é importante entender primeiro o que está levando a empresa a ter essa necessidade de capital de giro, pois assim é possível ter uma assertividade maior nas projeções e analises, reduzindo assim as chances de levantar um recurso insuficiente.