Tunico andava indócil.
Quando em vez, sentado do lado de fora da cabana em que morava, moído após um dia inteiro no cabo da foice, tomando um trago de pinga enquanto Dalva preparava a janta, via o sol escorrer seu amarelão sobre a monotonia: pasto, pedra, árvore.
No alto, a montanha.
Nunca fora à montanha.
Só via de longe. De perto vira seca, morcego-vampiro, tatu, chuva de raio, jararaca, enchente, alma-de-gato, carro grande, corisco, homem estripado.
E pasto, pedra, árvore.
A montanha, só de longe.
Certa manhã, voltando do curral, sentou à porta da cabana e olhou o morrão.
– Pro diabo, vou subir essa desgraça.
Gritou qualquer coisa pra Dalva, montou o pangaré que chamava de Alvorada e partiu.
Cruzou rios mixurucas, várzeas, bambuzais, cupins e caburés até chegar ao pé do morro. E começou a subida. Lá pelas tantas o cavalinho arriou, ele amarrou o bicho num pé de manga e continuou a pé, facão na mão pra ir cortando o mato.
Por fim, o dia por um fio, chegou ao topo da montanha.
E o que descobriu lá naquela altura agora domada?
Pasto, pedra, árvore.
Olhou pra baixo e sentiu um nó nas tripas.
Um gosto de ferrugem na boca.
Dali de cima, da montanha enorme que avistava da sua cabana, não conseguia ver a cabana mínima de onde avistava a montanha.
– Peste.
E desceu cavalgando os próprios calcanhares até o pangaré, que desde então passou a se chamar Poente, e voltou em desabalada carreira pelos pastos, pedras e árvores.
Queria chegar antes que a Dalva guardasse as panelas.
Que mulher brava é uma desgraça.