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Falar sobre a morte ajuda a viver melhor?

Pitico Fernando Priamo
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Temos muitas dificuldades pessoais e sociais para aceitar o nosso envelhecimento. O tema da velhice sempre foi e continua sendo uma pauta controversa, de pouco acolhimento na comunidade, e sempre traz polêmicas, resistências e muita conversa preconceituosa. Não entra na agenda pública com facilidade.

Eleições municipais se aproximando: vamos monitorar as narrativas dos candidatos e das candidatas – quem, quantos e quantas vão levantar a bandeira política na defesa de um envelhecimento ativo e saudável para a cidade? Vamos ficar atentos e atentas, caros leitores e leitoras.

A grande questão que se coloca é a seguinte: estamos envelhecendo rapidamente, a cidade está preparada ou vem se preparando para atender a essa nova realidade? A cidade está preocupada politicamente com o crescente número de pessoas idosas que vivem aqui? Se não criarmos canais públicos de participação social – aparelhos de conversas – sobre o nosso envelhecimento, pouco ou quase nada sairá do lugar em que estamos, de bastante desinformações e avaliações enganosas sobre o potencial humano de todos nós que envelhecemos.

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Acredito que é importante e fundamental a criação de instrumentos educativos para se falar abertamente sobre o nosso processo de envelhecimento com todos os desdobramentos que chegam para a nossa vida por estarmos mais velhos. Estamos diante uma outra realidade demográfica, em que é acelerado o envelhecimento de nosso país, de nossas cidades e de JF.

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Só para não esquecer: temos mais de 100 mil pessoas com a idade igual ou superior a 60 anos. É preciso que faça parte da nossa rotina, desde as escolas primárias até as universidades, a entrada de aulas e comunicações sobre a velhice.

Indo diretamente à pergunta provocadora que leva o título dessa coluna de hoje, penso que sim: falar sobre a morte ajuda a gente a viver melhor. A viver, de verdade. O que eu entendo sobre o que é viver de verdade? Encarar os nossos medos e fantasmas sobre o que vem pela frente no correr dos nossos dias. Que pode ser bom. Eu acredito e desejo que seja bom. Viver de verdade para mim é atravessar o deserto. É ter fome e sede de se humanizar.

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E quem disse que a morte ou morrer é condição primeira de quem vive no outono da vida? Morrer é da vida, não é da idade.

Voltando à pergunta do título dessa coluna. Se eu tenho em mim a consciência de que minha estrada acaba na próxima curva, eu penso que, o quanto antes, eu devo pavimentar na alma tudo aquilo que me proporciona felicidade, por mais fugazes que sejam esses momentos. Vou sustentar em mim sentidos e propósitos para a minha vida. Pode ser mais um clichê, mas eu acredito que sem motivo para sair da cama, a vida realmente não tem graça alguma.

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Como criar esses motivos? Fazendo uma grande incursão, corajosa, para dentro de si. Aqui me vem à mente a canção do Legião Urbana, “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. A vida é urgente, porque não sabemos em qual estação vamos embarcar e também não sabemos a hora e nem o dia.

Outras culturas falam da morte com naturalidade. Li algum tempo atrás, em periódicos especializados, que em alguns países tem sido comum a criação de grupos de pessoas que reúnem-se espontaneamente para falarem de si: todos e todas com diagnóstico de doença terminal, e nessas condições, elas dão sentido às suas vidas nos encontros com outras vidas. Muito interessante!

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