A solidão, além de ser um tema bem contemporâneo, diante de um mundo hiperconectado, alimenta, certamente, estudos filosóficos. No plano pessoal, considero que é uma condição humana interessante para dedicarmos horas e horas para a nossa reflexão. Um mergulho para dentro. Diante de uma esfera geopolítica em constantes transformações e um cotidiano, muitas das vezes, estressante e corrido, penso que faz bem à saúde da gente parar um pouco para rever os nossos caminhos: para onde estamos indo?
Na minha atuação profissional com pessoas idosas escuto com certa recorrência a fala de que a solidão é própria de quem tem mais idade. Narrativa que não corresponde à vivência da realidade. Gerações mais novas estão frequentando consultórios de profissionais especializados. Nesse planeta globalizado definido por, entre outras tantas mudanças, pela revolução tecnológica, nunca nos sentimos tão solitários. A ponto de pesquisas e mais pesquisas na área, definirem o século XXI, como sendo o século da solidão.
E se você, prezado leitor e leitora, desejar conhecer um pouco mais sobre esse assunto, sugiro para leitura o livro “O século da solidão” – restabelecer conexões em um mundo fragmentado. De Noreena Hertz. Editora Record. Voltando para a questão de se associar o envelhecimento com a solidão penso que é necessário fazer uma distinção semântica e prática entre ser solitário e desejar a solitude.
Ter momentos para ficar só, de interiorização, de potencializar a espiritualidade ou até mesmo de buscar um autoconhecimento é muito necessário. E faz falta. Diferente de ser visto como uma pessoa antissocial, que não gosta e que não pertence a nenhum grupo social. O que acontece, isso sim, é um movimento da sociedade, notadamente, com a chegada da aposentadoria, é o isolamento e a falta de prestígio e de reconhecimento a todos nós que envelhecemos.
Uma nova cultura precisa ser inaugurada para a valorização e respeito às pessoas idosas nessa nova configuração de uma sociedade envelhecida. De uma cidade, como a nossa, que tem mais de 100 mil pessoas com a idade de 60 anos e mais. E que clama por mais atenção e por mais olhares de apoio e de consideração. Em relação à sociabilidade, as relações com as pessoas idosas, ainda persiste em nossos dias, uma ideia preconcebida, negativa, diante de muitas outras, de que algumas pessoas idosas são mal humoradas, egocêntricas e chatas, só porque são idosas.
Por que é proibido envelhecer? Miremos nos nossos artistas – músicos octagenários – ídolos da MPB – que nunca estiverem tão bem e tão produtivos. Não sei se tem cura para a solidão. E nem sei se seria bom viver sem ter momentos de solidão. Escolher estar só, conscientemente, me parece ser um bom remédio para a alma. Como também faz muito bem buscar as amigas, os amigos e outros recursos humanos disponíveis.
No envelhecimento, no aspecto da nossa rede de apoio, é preciso ter mudança de comportamento; ninguém vai adivinhar que você está só, que está carente, emocionalmente, de uma companhia, de uma conversa e de uma boa prosa: é necessário ter atitude, coragem – sair do lugar – na direção de realizar seu desejo; desejo de encontrar, desejo de receber afeto.
Falando em desejo de encontrar, de receber afeto. Cabe aqui fazer um pequeno registro da abertura do Projeto Três da Tarde, da Paróquia da Igreja da Glória. Que se constitui em um espaço social para o desenvolvimento de atividades culturais, de convivência e de celebração. Movimento idealizado e coordenado pelo Padre Viol com a participação fundamental da Assessoria de Comunicação. Tem a nossa atuação voluntária e está aberto para a participação da comunidade. De terça a sábado, às 15h. Na Igreja da Glória. Você está convidado/a.