Um dia destes, acordei com uma estranha sensação. Sentia um peso diferente no peito, mas, de imediato, não consegui identificar o que era. Havia algo silencioso mudando dentro de mim. Agora, entendo que aquele sentimento era o prenúncio da compreensão de que, pela primeira vez em anos, o sonho que me acompanhou ao longo da vida já não é mais capaz de me preencher. Ele, que antes era minha força motriz, parece hoje uma fantasia distante, uma recordação de quem eu já fui, mas que não sou mais.
Persistir em um sonho é algo nobre, e isso é o que aprendemos desde crianças. Eu sempre acreditei nisso; tanto é verdade que muito da minha energia, esperança e projeções foram dedicados a esse único objetivo. Realizar meu sonho era o que me fazia levantar em dias difíceis, assim como era o motivo do meu sorriso nas pequenas vitórias.
No entanto, nada dura para sempre, e a vida, de forma sutil, transforma as coisas, colocando tudo em seu devido lugar e evidenciando que até mesmo os sonhos mais caros podem mudar. É claro que há resistência e embates internos; não é fácil trocar de ideia sobre aquilo que pensávamos ser parte da nossa identidade. Muitas vezes, pensei que estava me traindo. Porém, com calma, percebi que aquela inquietação não era um abandono, mas sim uma evolução. Quem sou agora não é mais quem eu era quando aquele sonho nasceu.
Reconhecer que um sonho já não nos pertence mais é libertador. Abrir mão dele não significa fracasso, mas sim maturidade. Entender que nossas pretensões se modificam com o tempo é parte do crescimento. Às vezes, precisamos deixar espaço para que novos sonhos possam nascer, sonhos que sejam mais harmoniosos com a pessoa que agora somos.
Decidir seguir novos caminhos não é fácil. Desprender-se de algo que nos cativou por uma vida inteira dói, mas essa dor é boa, pois indica que algo está mudando para melhor, mesmo que tudo ainda pareça cheio de incertezas.
Assim, é preciso trilhar caminhos jamais cogitados. Não tenho mais o mesmo sonho que me guiava, mas sinto um grande alívio por não estar mais preso a ele. A possibilidade de recomeço, quantas vezes for necessário, é uma dádiva. Cabe a cada um de nós saber aproveitar as oportunidades, lembrando que o que ficou no passado foi bom enquanto durou.