Escolhi errado. A mágica não aconteceu. Nessa garrafa só veio o líquido.”
Reconhecer minha completa ignorância sobre o tema fez, aí sim, a mágica acontecer despertando-me para um mundo vasto e perene, repleto de histórias, de tradição e de cultura, que está intrinsecamente ligada ao ser humano e suas conquistas e que me fez transcender ao líquido engarrafado naquela gôndola.
E é sobre isso que quero refletir com você. O vinho (mosto de uva fermentado) é uma bebida que acompanha a jornada humana há mais de 8 mil anos. Isso mesmo! O gênero Vítis é mais antigo que o homem no planeta Terra e isso me leva a filosofar se algum dinossauro poderia ter pisado em uma videira, esmagado os frutos e, com o rompimento das cascas, iniciado o processo de fermentação. A partir disso, não é difícil imaginar que algum animal poderia ter ficado embriagado em algum momento do período jurássico, rsrsrsr.
Brincadeiras à parte, o vinho foi descoberto de forma acidental: alguém percebeu que uvas esmagadas, com o tempo, fermentavam e se transformavam numa bebida, digamos, um pouco “estranha”.
Estudos indicam que essa descoberta ocorreu no oriente médio em algum lugar entre a Anatólia e a Geórgia, atuais Armênia e Irã. Segundo historiadores, a cultura do vinho (e a viticultura) pegou carona no surgimento das civilizações dominantes como os Mesopotâmicos e os Gregos, viajando junto com o Império Romano e se estabelecendo na Europa Feudal e até no mundo Muçulmano.
Com o decorrer dos milênios, o vinho passou a ter uma importância extraordinária e até divina junto à formação das sociedades. Seus aromas envolventes e poderes afrodisíacos, sua utilização como antisséptico universal, seu uso para purificar água e tratar ferimentos, seus efeitos visuais da reação química na fermentação, sus consequências da embriaguez que despertava a imaginação, estimulava a criatividade e, em alguns casos, “soltava demasiadamente a língua”, fizeram o vinho percorrer por séculos uma linha tênue entre o sagrado e o profano.
É importante lembrar que o vinho acompanhou o surgimento do monoteísmo e, até hoje, continua sendo um elemento central da doutrina e dos rituais das religiões judaicas, cristãs e muçulmanas. Atribuído como a bebida dos faraós, imperadores, sacerdotes, reis, artistas e filósofos; o vinho começa a ganhar o mundo e se torna uma bebida universal.
Hoje abordamos de uma forma superficial os primeiros passos do vinho. Nos próximos encontros falaremos dos aspectos comerciais e econômicos que o vinho alcança ao redor do mundo, sua expansão para o chamado Novo Mundo, sua chegada ao Brasil, seu renascimento após a filoxera e muito mais.