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A evolução do gosto

bebe comendo Vanessa Loring
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Com base na frase de Mário de Andrade “O gosto não retrocede”, é possível fazer uma reflexão mais profunda sobre a evolução do paladar humano ao longo da vida. Desde o nascimento, o paladar é uma habilidade que começa a se desenvolver a partir da exposição a diferentes sabores e alimentos. Aos poucos, a pessoa começa a identificar e preferir certos sabores em detrimento de outros, moldando o seu paladar e as suas preferências alimentares.

Assim como o gosto pela arte e cultura, o paladar humano pode ser aprimorado e desenvolvido ao longo da vida, e a experimentação é uma das principais chaves para essa evolução. A partir da exposição a diferentes alimentos e combinações de ingredientes, o paladar se torna mais diverso e sofisticado, capaz de identificar nuances e sabores sutis que antes passavam despercebidos. 

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Essa evolução do paladar é importante não só para o prazer de comer, mas também para a saúde e o bem-estar físico e emocional. Uma alimentação variada e equilibrada é fundamental para garantir a ingestão de todos os nutrientes necessários ao organismo, e o paladar desenvolvido pode ajudar a ampliar as opções alimentares e tornar a dieta mais diversificada e interessante.

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No entanto, assim como o gosto pela arte e cultura, o paladar humano também pode retroceder se a pessoa se limitar a comer sempre os mesmos alimentos e sabores. Isso pode levar a uma perda de sensibilidade aos diferentes gostos e texturas, fazendo com que a alimentação se torne monótona e desinteressante. Por isso, é importante buscar sempre novas experiências gastronômicas e experimentar diferentes pratos e ingredientes. Além de ampliar o paladar, essa atitude pode ser uma fonte de prazer e satisfação, proporcionando momentos de descoberta e de novas experiências.

Outra forma de aprimorar o paladar é aprender sobre os ingredientes e técnicas culinárias utilizados na preparação dos alimentos. Conhecer os diferentes tipos de temperos e especiarias, por exemplo, pode ajudar a identificar e apreciar sabores mais complexos e sofisticados. Da mesma forma, entender como diferentes ingredientes interagem entre si pode proporcionar uma compreensão mais profunda e apreciativa dos pratos.

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Vale lembrar, no entanto, que a evolução do paladar não é uma corrida contra o tempo, nem uma competição para ver quem é capaz de identificar o maior número de sabores ou de ingredientes. Cada pessoa tem o seu próprio ritmo e as suas próprias preferências, e o mais importante é buscar sempre a satisfação e o prazer na alimentação. Além disso, é preciso ter em mente que o paladar não é uma habilidade estática, mas sim uma habilidade que pode ser influenciada por fatores como a idade, a saúde, bons e maus hábitos e o ambiente cultural. Por isso, é importante manter uma mente aberta e estar sempre disposto a aprender e experimentar coisas novas.

Hábitos como fumar e mascar chiclete em excesso, ou próximo às refeições, podem afetar negativamente o paladar de maneiras diferentes, mas ambos podem ter um impacto significativo na capacidade de sentir e apreciar os sabores. Em grande parte dos restaurantes, esses hábitos são decisivos na contratação de pessoal.

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No caso do fumo, a exposição constante à fumaça pode causar danos aos receptores de sabor e olfato na boca e no nariz. O fumo contém uma grande quantidade de compostos químicos, muitos dos quais são tóxicos e podem prejudicar a função desses receptores. Além disso, o fumo pode causar inflamação nas papilas gustativas, que são as estruturas que detectam os sabores. Com o tempo, essa inflamação pode levar a uma diminuição na sensibilidade gustativa e até mesmo à perda do paladar. Isso explica, por exemplo, a necessidade de sal em excesso na comida, por parte de tabagistas.

Já o chiclete pode afetar o paladar de forma mais sutil, mas também prejudicial. Ao mascar chiclete, é comum que o sabor inicial seja bastante forte, mas isso tende a diminuir rapidamente. Com o tempo, o sabor do chiclete pode se tornar menos perceptível e menos satisfatório, o que pode levar a uma necessidade de mascar mais para sentir o mesmo efeito. Além disso, o sabor artificial dos chicletes pode levar a uma habituação ao doce, o que pode afetar a percepção de outros sabores e a capacidade de apreciá-los plenamente.

Em ambos os casos, o fumo e o chiclete podem levar a uma diminuição na sensibilidade gustativa e olfativa, o que pode prejudicar a capacidade de saborear e apreciar os alimentos. É importante ressaltar que esses efeitos não são permanentes e, em muitos casos, podem ser revertidos com o tempo, especialmente se a exposição ao fumo ou ao chiclete for reduzida ou interrompida completamente.

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Em conversa com a minha amiga e professora de História da Gastronomia Mariana Alencar, acerca da evolução do paladar humano, ela citou a perspectiva do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que também teorizou sobre a relação entre gosto e cultura. Segundo Bourdieu, o gosto não é apenas uma questão de preferência pessoal, mas sim uma construção social e cultural, que reflete a posição social e econômica do indivíduo na sociedade. Em outras palavras, os padrões de gosto e consumo de alimentos são influenciados pela classe social e pelo ambiente cultural em que a pessoa está inserida.

Dessa forma, o paladar humano não evolui de forma isolada, mas sim em um contexto social e histórico. As preferências alimentares e os hábitos culinários são influenciados pela cultura e tradição alimentar da região em que a pessoa vive, bem como pela disponibilidade e acesso aos alimentos. Assim, a evolução do paladar também pode ser compreendida como uma evolução cultural, em que a pessoa amplia sua compreensão e apreciação dos diferentes sabores e ingredientes, ao mesmo tempo em que se conecta com as tradições culinárias de sua cultura e de outras culturas.

É importante destacar que, embora a construção social do gosto possa criar barreiras e desigualdades em relação ao acesso a diferentes alimentos e experiências culinárias, a busca pela ampliação do paladar e pela experimentação de novos sabores e ingredientes pode ser uma forma de transgredir essas barreiras e se conectar com outras culturas e realidades.

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Em resumo, a reflexão sobre a evolução do paladar humano a partir da frase de Mário de Andrade “O gosto não retrocede” nos permite compreender como o paladar pode ser desenvolvido e aprimorado ao longo da vida, por meio da experimentação e da aprendizagem. Ao mesmo tempo, a perspectiva de Pierre Bourdieu nos ajuda a compreender como o gosto e as preferências alimentares são influenciados pelo contexto social e cultural, e como a busca pela ampliação do paladar pode ser uma forma de se conectar com outras culturas e transgredir as barreiras sociais e econômicas.

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