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O Direito de Sonhar

coluna bruno stiger
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A coluna de hoje não será sobre uma decisão do Supremo Tribunal Federal ou sobre a interpretação de uma determinada norma constitucional. O momento exige outra reflexão! Para além dos livros e das escrivaninhas, é preciso pensar o país e o mundo através da lente da empatia e da solidariedade. Em que pese um ou outro dizerem por aí que o país não deve parar por conta da morte de “algumas milhares de pessoas”, proponho nesta necessária quarentena uma pausa para pensarmos um mundo melhor.

Hoje farei um “hipotético” diálogo com Eduardo Galeano, um dos maiores pensadores que a América Latina já conheceu. Galeano, inspirado nas utopias do cineasta Fernando Birre, propôs certa vez a defesa do direito de sonhar, direito que não está em nenhuma Constituição e em nenhuma declaração de Direitos.

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Em meio a tantas incertezas, uma das poucas convicções que tenho é que o direito não estava e nem está preparado para lidar com tantas complexidades, muito menos na velocidade que elas se apresentam. É preciso repensar a utilidade do direito na vida das pessoas, seu fim e propósito. Talvez um passo atrás para mudarmos um futuro inseguro.
Por que, então, não sonhamos um pouquinho?

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Nesse mundo possível “os contratos de casamento importariam menos que o amor, o funeral menos que o morto, a roupa menos do que o corpo e a missa menos do que Deus”.

Esse direito que aqui sonhamos não propõe presídios como “plano de habitação para pobres”, pois suas chaves não serão mais de um grupo seleto de pessoas. Nenhum juiz mandará o “condenado” entrar no seu próprio julgamento.

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É preciso acreditar em um mundo que se condene a pobreza e não os pobres! Em que a violência não seja combatida somente quando os outros a praticam! Que a pena de morte só se torne legítima quando criada contra a própria pena de morte ou contra quem praticar injustiças sociais!

Enquanto não revogarem o direito de sonhar, sonharemos, como Galeano, com um mundo em que ninguém ficará triste por vender menos carros ou por que a bolsa de valores caiu. “Será incorporado aos códigos penais o delito da estupidez, cometido por aqueles que vivem para ter e para ganhar”. Para os que se esqueceram de SER e pensam somente em TER. “A televisão deixará de ser o membro mais importante da família e será tratado como o ferro de passar e a máquina de lavar roupa […]; os políticos não acreditarão que os pobres gostam de comer promessas […]; a morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes e nem por falecimento nem por fortuna o canalha será transformado em virtuoso cavaleiro”.

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Todos que acreditam na justiça e na liberdade poderão vivenciar seu tão aguardado (re)encontro. “A comida não será uma mercadoria e por isso ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão”; “os meninos de rua não serão tratados como lixo, porque não haverá meninos de rua” e “a educação não será um privilégio de quem possa pagá-la”.

A natureza será enfim devidamente protegida e respeitada. “Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma”; Deixaremos de lado a vaidade e a busca pela perfeição. “A perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses”.

Na luta pela “justiça justa no reino da injustiça […] cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro”.
Façamos um balanço, pessoal e social, sobre o país, o mundo e o papel de cada um nós. Acredito na promessa esculpida na nossa Constituição de que temos como objetivo a construção de uma sociedade livre, justa e SOLIDÁRIA.

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Como dizia o poeta latino “às vezes acabam mal as histórias da História, mas ela, a História, não acaba. Quando diz adeus, está dizendo até logo!” Tenho uma fé racional de que sairemos diferentes e reconstruídos deste momento, só precisamos saber se melhores. O tempo nos dirá.

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