A eleição se aproxima e, com ela, a agitação que lhe é característica. Viveremos dias intensos, ainda aprendendo a conviver com uma disputa que se dá mais na estridência do mundo virtual do que no real. Há de se ter paciência. O corredor polonês acaba logo ali – será? – quando a Copa do Mundo começar.
Tempo de eleição também é tempo de projetos e promessas grandiloquentes. É como se a Noruega estivesse nos esperando em janeiro de 2023. Brasília será Oslo (“só que não”, como dizem na internet). Falta nos prometerem a neve, mas logo alguém tem essa ideia. E, então, vamos acreditar e esquecer – e a vida seguirá até a próxima campanha.
Por isso, estou deixando de lado os grandes desejos. Por que acreditar que vão resolver os problemas de saúde, educação, desmatamento, fome, previdência, ararinhas em extinção, trânsito, favelas, imigrantes venezuelanos e guerra da Ucrânia, tudo em quatro anos? Não! Quero alguém que me prometa resolver o mínimo, aquele pequeno incremento de vida que já ajuda a seguir adiante. O resto a gente vai tentando aos poucos. O Brasil tem pressa, é claro. Eu também. Mas vamos tentar não acreditar nem apressar demais. Como naqueles relacionamentos que não dão certo porque a pessoa projetou a perfeição na outra, eu já idealizei muito esse país. Agora quero projetar o mínimo e ser surpreendido. Já vou entrar contando com o fracasso.
Isso não quer dizer que devemos abandonar completamente nossas grandes metas. Elas podem estar lá, mas no espírito de Drummond com Itabira: um quadro na parede (mas como dói). A questão é que, nesses tempos de idolatria do eu, todos estão cheios de metas grandiosas: muitos querem seguidores de Instagram a ponto de ser tornarem a Kim Kardashian, outros acham que vão criar o paraíso do proletariado na Terra e há aqueles que acham que o Brasil vai salvar o ocidente decadente. E tenho certeza de que deve ter algum louco por aí que quer as três coisas ao mesmo tempo.
Por isso, estou modestamente atrás das pequenas vitórias cotidianas. Como no poema “Os limões”, de Eugênio Montale, busco “o ponto morto do mundo”, onde “por um milagre cala-se a guerra”. O leitor espera que esse local de isolamento seja longe de tudo e de todos, mas não. Para o poeta italiano, o que lhe fez escapar das paixões foi o aroma dos limões. Em meio “às ruidosas cidades onde o azul se mostra só aos pedaços, no alto, entre as cimalhas”, onde “a luz se torna avara”, o poeta vê os amarelos limões por um portão entreaberto em meio às árvores de um pátio. “E o gelo do coração se desfaz”, ele diz.
Sim, enquanto o mundo enlouquece, estarei perseguindo os limões do poeta em qualquer árvore de qualquer pátio escondido desta agitada Juiz de Fora. E dos limões farei minha singela limonada, na esperança de que mesmo os pequenos gestos possam fazer uma enorme diferença.