Novembro Azul: JF registra mais de mil diagnósticos de câncer de próstata este ano
Médico destaca importância de detecção rápida por meio de exames
Depois do Outubro Rosa, novembro direciona as atenções para outra questão de saúde: o câncer de próstata. O Novembro Azul ressalta a importância dos cuidados e, sobretudo, a necessidade de se manter atualizado quanto aos exames. Segundo dados da Secretaria de Saúde, 1.361 casos foram diagnosticados este ano Juiz de Fora até o dia 13 de novembro, conforme as Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon).
Já em relação aos exames, a Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes) informou que, até outubro deste ano, foram realizados 4.700 no município. Em todo o ano de 2023, a entidade registrou 7.585 procedimentos deste tipo, sendo 1.110 só durante a campanha realizada este mês.
Histórico familiar
Leandro Medeiros, engenheiro de formação e executivo de logística, nasceu em Minas Gerais, cresceu no Rio de Janeiro e afirma ter uma forte relação com Juiz de Fora: “onde ganhei minha terceira filha”. Ele foi diagnosticado com câncer de próstata em 2020. Segundo ele, a semente do desafio foi plantada há quase 20 anos. “Meu pai, aos 70 anos, teve a doença detectada. Lembro-me do nervosismo e da angústia, mas ele enfrentou com força e coragem. Optou pela braquiterapia – um tratamento menos invasivo que preserva a próstata. Felizmente, está conosco até hoje, com quase 90 anos”, conta.
O histórico familiar de câncer de próstata classifica uma situação de risco, o que fez Leandro manter um acompanhamento rigoroso, com exames anuais desde antes dos 40 anos. “Entretanto, na rotina corrida de trabalho e compromissos, acabei empurrando uma consulta de seis meses para um ano e meio. Quando finalmente fui ver meu médico, de Juiz de Fora, ele olhou para o exame e questionou o motivo de ter demorado tanto. Naquele momento, percebi que eu havia priorizado tudo, menos a minha própria saúde.”
Logo vieram novos exames, inclusive a biópsia, e o diagnóstico se confirmou. De acordo com o engenheiro, o impacto “faz lembrar que a vida tem um fim e te tira da zona de conforto”. A parte positiva foi ouvir que a doença estava em estágio inicial. “Fui grato por ter uma chance”, comemora. A partir disso, seu médico afirmou que o tratamento era a retirada completa da próstata. “Ali, entendi que, mais do que nunca, precisava estar forte para ajudar minha família a enfrentar isso também. Minha esposa, Elivânia, foi o meu pilar. Ela me olhou e disse: ‘estou com você, vamos juntos’. E, com isso, segui firme.”
Leandro afirma ter decidido buscar todo o apoio possível: terapia com psicólogo, acompanhamento nutricional e fisioterapia pélvica. “Fui preparado para a cirurgia robótica no Rio, e o procedimento foi um sucesso. Hoje, após essa experiência, mudei o foco. Saí do ‘por que isso aconteceu comigo?’ para o ‘para que isso aconteceu comigo?’ Acredito que tudo isso teve um propósito maior. Se eu posso ajudar outras pessoas a perceberem a importância da prevenção e a não adiarem o cuidado consigo, já valeu a pena. Saí dessa provação como um ser humano muito melhor, mais grato e conectado com a vida e as pessoas ao meu redor”, conclui.
O câncer de próstata
O médico urologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) – vinculado à Ebserh – e mestre em oncologia, Victor Fanni, explica que a próstata é uma glândula do sistema reprodutor. “O indivíduo, além de urinar, ejacula o sêmen pela uretra. Quem faz essa comunicação entre esses dois tratos é a próstata. Produz o Antígeno Específico da Próstata (PSA), utilizado normalmente para análise de sangue – e de risco de câncer -, uma substância que serve para liquefazer o sêmen.” Além disso, também possui a função endócrina de transformar a testosterona na forma ativa dela: a dihidrotestosterona, por meio de uma enzima dentro da própria próstata.
Em relação ao câncer na glândula, Victor esclarece que todos os tumores são células atípicas, um tecido não típico da região, que é capaz de ter um crescimento anárquico, que não respeita as estruturas próximas. “Tem capacidade de invasão e desenvolvimento de metástases. Em resumo, o câncer de próstata é um erro na renovação celular do tecido prostático, que desenvolve um tecido atípico com divisão celular mais exacerbada, com maior velocidade e com capacidade de invadir estruturas próximas, além da disseminação através de linfáticos e pelo sangue, o que chamamos de metástase.”
Todos os tumores possuem três causas principais, segundo o médico: genética (como no caso de Leandro Medeiros), por predisposições geralmente hereditárias de familiares de primeiro grau; envelhecimento, que corresponde a algo entre 70% e 80% dos casos, por favorecer erros na renovação celular – nessa causa, a tendência é de tumores menos agressivos, em que a pessoa não morre pela doença e, sim, com a doença; e questões ambientais e estilo de vida, que envolvem fatores de risco, como cigarro, tabaco, abuso de bebidas alcoólicas, excesso de peso, uso de drogas e exposição a agentes radioativos. “Prevenir câncer de próstata é ter estilo de vida saudável”, reforça.
Quanto aos grupos de risco, Victor destaca, no histórico familiar, irmão ou pai que descobriram a doença com menos de 60 anos – sendo que o risco é maior no caso de irmão. “A etnia também se encaixa no contexto: indivíduos negros, em países com miscigenação não tão grande como no Brasil, são mais propícios. É menos comum ainda em descendentes orientais”, acrescenta.
O tratamento depende do momento do diagnóstico. Após os exames e considerando as comorbidades, a doença pode ser classificada entre riscos muito baixo, baixo, intermediário e alto – todos relacionados ao desenvolvimento de metástase. Em casos menos agressivos, os indivíduos podem permanecer apenas com “vigilância ativa”, diz Victor. Ao menor indício de evolução, pode ser realizada radioterapia ou cirurgia para retirada da próstata, junto ao bloqueio hormonal de testosterona em casos mais graves.
Importância do Novembro Azul
Além do estilo de vida saudável para a prevenção, o rastreamento é fundamental. “O exame de rotina dá vantagem ao paciente que recebe o diagnóstico para o tratamento e a cura. Não necessariamente deve ser anual: o grupo de risco varia a frequência da pessoa”, ressalta o médico. Os exames de rotina utilizados para detecção são o de toque colorretal, que identifica nódulos e alterações na consistência da próstata; o PSA, pelo sangue, que avalia o nível do antígeno – se aumentado, pode indicar tumor; a ressonância, posterior aos dois últimos, avalia áreas suspeitas; e a biópsia, que pode confirmar o diagnóstico. Há ainda o PET com PSMA, que individualiza o tratamento de cada paciente, e outros pela urina.
Conforme o médico, o câncer de próstata comum acomete um em cada seis indivíduos durante a vida. Entretanto, a mortalidade não é tão frequente. “Ela ocorre em um a cada 33 indivíduos – cerca de 3%. Em um grupo de cem indivíduos, seis irão desenvolver a doença, um morre do câncer e os outros cinco morrem com o câncer. A pessoa do primeiro caso é mais jovem, com genética desfavorável e estilo de vida inadequado; os demais são os tumores relacionados ao envelhecimento. O câncer de próstata é o câncer do idoso”, completa.
*sob supervisão da editora Fabíola Costa